quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Missão, visão e valores: quais são os seus?

Conheça e misture lemas históricos para escolher o que melhor combina com a construção da sua figura de empreendedor

Por Jack London*
 
 
É muito comum encontrar nas salas de recepção de grandes e médias empresas grandes molduras que contêm, sempre com vários itens, “missão, visão e valores” daquela instituição.
 
Esse hábito, mais comum na década passada, ainda tem forte importância, especialmente entre as grandes corporações, onde não há “patrões” por perto e a lembrança do destino comum tem que estar presente em letras de forma.
 
A humanidade, desde sempre, teve seus compromissos claramente afixados a cada fase de nossa existência. Os mais longevos e influentes são os Dez Mandamentos, que estão em pleno vigor há quase cinco milênios.
 
Pois muito bem, imagino que sua empresa deva ter – fixo na parede ou não – sua “missão, visão e valores”. Mas e você, a pessoa, o humano, o empreendedor, qual sua missão e quais os seus valores? Em que parte do seu corpo físico ou emocional estão afixadas suas escolhas?
 
Olhando a história, podemos encontrar diversos exemplos de dísticos, frases simples com poucas palavras, que guiaram destinos e marcaram projetos de vida.
 
Qual deles estará mais próximo da sua construção pessoal?
 
Quem sabe, ao final dessas referências, você não estará pronto para definir sua “missão, visão e valores”, escolhendo entre tantos o que mais se aproximar de seu futuro imaginado?
 
1 - Se começarmos por Roma, impossível não lembrar de Júlio Cesar, em 47 a.C., retornando depois de uma fieira de vitórias militares: “Vim, vi e venci.” Que tal o 3V? Um pouco arrogante? Ou adequado ao seu projeto de pessoa? Nos anos 90 a Apple, num de seus encontros, distribuiu ao público uma camiseta com a frase latina “veni, vidi, codi!”, ou seja, “vim, vi e codifiquei”. Até hoje a camiseta é uma raridade disputada a tapa no e-Bay.
 
2 - A Igreja Católica, há muito tempo, usa a expressão “fé, amor e caridade” como uma espécie de resumo de sua missão no mundo. Quantas dessas qualidades estão entre suas opções?
 
3 - Nenhuma frase marcou tanto, de maneira tão forte, a civilização ocidental quanto a criação dos burgueses franceses ao expulsar do poder seus adversários aristocratas: “liberdade, igualdade, fraternidade”. Já imaginou uma empresa tendo esses conceitos como “missão, visão e valores”? Qual dos direitos burgueses cabe, como uma luva, em suas mãos empreendedoras? Segundo os franceses, só era possível comerciar e enriquecer num ambiente com aquelas características: “liberté, egalité, fraternité”.
 
4 - Os socialistas de Lênin, em meio à revolução bolchevique, na Rússia do começo do século XX, tiveram tempo para cunhar o fortíssimo “paz, pão e terra”. Pão com o sentido de sobrevivência física para todos e terra como garantia de propriedade dos meios de produção. Paz, uma lembrança eterna. Que tal o projeto de sua “bakery”, ou a velha padaria da esquina, recuperar a frase, com um sentido moderno e de preservação ambiental?
 
5 - Finalmente, se fôssemos hoje cunhar uma nova fórmula de expressar nosso mundo conturbado, apostaria em muitas frases. Que tal “felicidade, agilidade e longevidade”? Ou quem sabe “identidade, modernidade e fragilidade”?
 
Terminado esse passeio histórico, que deixou de fora outras tantas fórmulas, sugiro ao prezado leitor criar um puzzle com as 18 palavras e aos poucos ir montando seu projeto pessoal de “missão, visão e valores”. Dezoito palavras, três a três, permitem, como afirma a velha matemática, gerar centenas de resultados diferentes.
 
Que tal “paz, liberdade e longevidade”? Ou quem sabe “fé, fraternidade e paz”?
 
Deixei para o final, por respeito e cautela, as incômodas lembranças dos velhos gregos, que lá do fundo, com seus deuses e titãs, tudo veem.
 
Deles é a junção de três palavras: moira = destino, húbris = arrogância e prepotência, e nêmesis = decadência como punição dos deuses, fazendo o arrogante ser devolvido à sua condição original de simplicidade, obscuridade e anonimato.
 
Onde estarão centenas de protagonistas de capas de revistas e de matérias de destaque que você leu nos últimos anos, que, no caminho, confundiram sucesso com soberba? Ou que sequer chegaram ao sucesso, mas apenas aos seus 15 minutos de suposta fama?
 
O famoso historiador inglês Arnold Toynbee chegou a cunhar a expressão “nêmesis da criatividade”, que se aplicaria aos países que subitamente fracassam em sua história social e econômica após demonstrações precipitadas de soberba e arrogância. Conheço muitos empreendedores, artistas, atletas, políticos e celebridades eventuais (entre eles os famosos gregos Édipo, Prometeu e Jasão) que deveriam ter, em sua cabeceira, além de “missão, visão e valores”, o melhor e mais antigo de todos os avisos: “moira, húbris, nêmesis”.
 
 
* Jack London é fundador da Booknet, primeiro negócio virtual que ganhou fama no Brasil, e da Tix, empresa de comercialização de ingressos online. Atualmente é professor, consultor e empreendedor.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Revista PEGN
03/10/2012

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