segunda-feira, 29 de março de 2010

O paraíso do primeiro emprego

Inverte-se o problema: não são os jovens que saem à caça das empresas, mas são as empresas que os disputam


Gilberto Dimenstein
 
 
SÃO SOLTEIROS, universitários recém-formados, moram com os pais, estão empregados -e já ganham um bom dinheiro. Sentem-se satisfeitos com sua situação financeira e não viram dificuldade em entrar no mercado de trabalho. Em pouco tempo, em aproximadamente mais dez anos, continuarão empregados e metade deles, ganhando de R$ 4.600 a R$ 23 mil, estarão entronizados entre os mais ricos do país. Em comum entre eles o fato de serem ex-alunos de escolas particulares da cidade de São Paulo. Esse perfil foi encontrado pelo Datafolha, que, durante dois anos, elaborou um sistema de avaliação das escolas privadas, algumas das quais frequentadas pela elite paulistana. O projeto foi patrocinado pela Eduqual. O que se vê aí é um círculo virtuoso. Jovens de famílias mais abastadas, com maior repertório cultural e rede de relacionamentos, ganham ainda mais oportunidades. O salário é um resultado previsível. Conheci, na semana passada, uma experiência bem-sucedida de aplicação desse tipo de círculo virtuoso em populações mais pobres, na qual se discutem alguns dos principais problemas nacionais, como o gargalo da mão de obra qualificada, a precariedade educacional e o desemprego de jovens. Uma cidade conseguiu montar um sistema de ensino técnico integralmente conectado à vocação da região, e todos os alunos da rede pública têm direito a frequentar o curso profissionalizante sem pagar um único centavo. O resultado mais do que previsível: a empregabilidade é próxima de 100%. Isso porque falta mão de obra qualificada na região. Inverte-se o problema: não são os jovens que saem à caça das empresas, são as empresas que os disputam.

O projeto foi arquitetado na Unicamp e aplicado em Indaiatuba, uma cidade de 212 mil habitantes na região metropolitana de Campinas. A universidade montou um programa de ensino técnico para a prefeitura (batizado de Fiec), o que, por si só, já é diferente do que se vê no resto do país, em que as prefeituras, muitas vezes, não assumem sequer a totalidade do ensino fundamental, muito menos o ensino médio. Em 1998, foram liberados recursos federais para o projeto, numa parceria entre o MEC e o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento). Depois da fase experimental, a Unicamp deixou o projeto, que, entretanto, graças à popularidade que angariou, não foi encerrado -ninguém ousou fechá-lo. Aquela é uma próspera região econômica, onde existem empresas dos mais diversos ramos -a IBM, a Toyota e a DHL (a maior empresa de logística do mundo) estão entre elas. Havia um mapeamento da demanda de cada empresa. A prefeitura continuou a pesquisa sobre a demanda de trabalhadores, buscando afinar-se com o mercado de trabalho. Todo ano, é feito esse tipo de censo. Por meio dele, já se descobriu, por exemplo, que deveria haver muito mais aulas de inglês, especialmente para o pessoal de tecnologia da informação. O projeto tornou-se sustentável. Experimentalmente, o governo estadual decidiu comprar vagas para todos os seus alunos da rede oficial -o custo fica mais baixo, já que a conta é dividida com a prefeitura, que assume a gestão- e o governo federal continua com os convênios. Embora em menor escala, esse tipo de modelo propagou-se para outras cidades do interior, como Campinas e Piracicaba.

Certamente, esse é um modelo a ser acompanhado, já que, por todos os lados, se fala em gargalo de mão de obra e em meios de incluir o jovem no mercado de trabalho -esse é um dos assuntos carimbados neste ano eleitoral. O tamanho do desafio pode ser visto no anúncio de um projeto, batizado de Brain (cérebro, em inglês), feito na semana passada. Alguns dos ícones da vida empresarial brasileira (Febraban e Bolsa de Valores, por exemplo) querem transformar o Brasil, especialmente as cidades do Rio e de São Paulo, em polo de investimento na América Latina, competindo com Londres e Nova York. Um de seus projetos é ajudar a formar melhor as pessoas desde a educação básica -está aí o caminho para que o primeiro emprego não seja um inferno para maioria e um paraíso para poucos. PS- Coloquei em meu site (www.dimenstein.com.br) a pesquisa do Datafolha, que revela uma sofisticação dos sistemas de avaliação. Vai muito além de medir o desempenho em português e matemática. Mais do que avaliar se o indivíduo está bem empregado, o método mede a taxa de autonomia e responsabilidade de cada um.
 
Folha de São Paulo, 28/03/2010 - São Paulo SP

sexta-feira, 19 de março de 2010

Veja estratégias para conseguir um emprego na sua área

Experiência em outro setor pode ajudar estudante na busca de colocação

Roberto Machado

Aluno do primeiro ano do curso de Sistemas da Informação, na USJT (Universidade São Judas Tadeu), o estudante Thyago Kimio Kamozaki chegou a participar de alguns processos seletivos sem sucesso. Em princípio, isso não o desanimou. Àquela altura, o rapaz apenas começava a carreira universitária e o tempo parecia a seu favor. Entretanto, depois de outro ano sem emprego na área em que estudava, a opção foi trabalhar como auxiliar administrativo por um período enquanto a oportunidade não surgia. Para Kamozaki o motivo parecia óbvio. "Eles exigiam muitos cursos e conhecimentos que eu, na época, não tinha", explica ele. A questão que o atormentou na época foi a mesma que ronda a cabeça de muitos universitários: o que o estudante deve fazer quando as oportunidades na área não vêm e os meses para seu curso terminar estão contados?

Kamozaki continuou a enviar currículos e a marcar entrevistas depois do sexto semestre, mas dessa vez o problema deixou de ser a falta de cursos e passou para o lado da experiência profissional. "Havia aprendido e tinha me tornado capaz de realizar as funções pertinentes à minha área, mas como nunca havia estagiado, era difícil ser aceito em alguma empresa", argumenta o estudante. O importante para o quase formado estudante de Sistemas da Informação é continuar se aprimorando na área depois que o curso terminar e também investir no aprendizado de idiomas. "Acho que está tudo interligado, faculdade, idiomas, cursos especializados e força de vontade. Não me arrependo da área que escolhi e pretendo ingressar nela o mais rápido possível", declara ele.
Quem também passou por problemas na hora de ingressar no mercado de trabalho, mas por motivos diferentes dos de Thyago, foi Michele Jully Anne Kai, estudante de Propaganda e Marketing da UNIP (Universidade Paulista). Por motivos financeiros, ela resolveu continuar no emprego que tinha antes de começar a estagiar. "Pretendia trabalhar na área, mas se fizesse isso, não teria dinheiro para pagar minha faculdade", explica Michele, que é gerente de uma loja de artigos orientais. Ela, que ainda pretende trabalhar na área onde se formará, percebe que o mercado de trabalho busca por profissionais que tenham um diferencial a oferecer na hora de trabalhar. Por esse motivo a estudante faz planos de um intercâmbio depois de se formar e ingressar numa especialização. "Essa viagem vai ser importante na minha vida profissional e, também, pessoal", aposta ela.
Para evitar compor o grupo de estudantes que lutam sem sucesso por uma vaga na carreira para o qual estudam, a primeira alternativa é tentar a construção eficiente de canais de informação sobre a área e, a partir desse instrumento, buscar por contatos. As dicas são de Jeanne Marie, coordenadora de arquitetura e urbanismo da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais). "Não adianta ficar parado, é necessário ligar, perguntar e correr atrás de amigos, professores e profissionais", resume Jeanne, que acredita que tudo isso deve acontecer em parceria com a capacitação profissional. "Algo que pode ser feito por meio de palestras, cursos e até aulas de outro idioma são um diferencial na hora da entrevista", aconselha ela. A coordenadora vai além e sugere que é possível usar a velha estratégia de bater "de porta em porta" para se aproximar dos profissionais que atuam no segmento que atrai o universitário. A professora exemplifica com o caso de um profissional em arquitetura cenográfica (projetos em teatro, televisão e eventos), que conseguiu ter sucesso na carreira porque quando era estudante resolveu arriscar e, sem receios, foi conversar diretamente com um dos melhores do ramo na época. "Ele se ofereceu para participar de um estágio não remunerado e aprendeu muito sobre o que engloba aquela parte especifica da profissão. É claro que essa realidade não é pertinente a todos, mas é uma ideia do que pode dar certo", exemplifica ela.
 
Contatos na universidade
O estudante também pode encontrar seu caminho dentro da profissão com aqueles que são provavelmente o embrião de sua rede de contatos profissionais: professores e coordenadores de curso. José Ermírio Ferreira de Moraes, professor e coordenador de engenharia química da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) acredita que a comunicação entre aluno, coordenador e professor é essencial no momento em que os futuros profissionais começam a participar de dinâmicas de grupo e processos seletivos. Segundo ele, é importante que o aluno tenha em mente que, nesse tipo de prova, não será testado apenas seu conhecimento técnico, mas também o seu lado pessoal. "Uma vez na seleção, eles devem se lembrar que a maneira com que eles falam, agem e se comportam, pode até ultrapassar o que se espera de conhecimento técnico", declara ele. É nesse momento que a comunicação entre Moraes e seus alunos se faz tão importante. "De alguma maneira, em alguns casos, consigo identificar qual foi o motivo que fez com que o aluno não conseguisse a vaga. Pode ser que ele tenha exposto de mais suas opiniões pessoais, ou em alguns casos, mostrado apenas seu lado técnico", explica o acadêmico. Por isso o incentivo é tão importante dentro da sala de aula. "Temos de descobrir o que mais atrai o estudante nas aulas e pensar sempre no seu futuro profissional. É com base nesses dados que vamos direcioná-lo para o mercado. Sempre com motivação, que deve ser o ponto principal dentro dessa relação", acrescenta ele.

Estar fora do setor em que você estuda e onde pretende trabalhar não significa que será muito mais difícil conseguir se colocar. De uma forma geral, as empresas buscam saber o máximo sobre passado do candidato na hora da contratação. A experiência profissional dentro da sua área de estudo é vista com bons olhos, mas não é determinante no ingresso no mercado de trabalho. De acordo com Bianca Mastropietro, chefe de recrutamento de estágio e trainee da Editora Abril, o importante é ter passado por alguma experiência profissional. Para ela, o problema pode estar naqueles que nunca trabalharam em lugar nenhum. "De uma maneira geral, o contratante vê o recém-formado que não tem nenhuma experiência profissional como alguém acomodado", alerta ela.
A recrutadora não acha que a universidade forma o aluno para o mercado de trabalho e é por isso que a experiência corporativa se faz tão importante. "É no estágio que o estudante terá a chance de se testar e isso só se consegue durante a graduação", exemplifica Bianca. Ela diz ainda que outro erro comum dos formandos é achar que terão chance nos processos de trainee que são abertos para quem já se formou. "Costumamos receber milhares de inscrições para esses programas, ele é realmente muito concorrido. Por isso, não é aconselhável contar apenas com ele", declara Bianca. Existe também, para aqueles que se identificaram com o meio acadêmico, a possibilidade de continuar dentro da universidade e desenvolver projetos de pesquisa. Mesmo que nunca se tenha trabalhado para uma empresa no segmento, há a possibilidade de tentar até uma bolsa para isso, além da iniciação cientifica dentro da própria universidade. O coordenador de engenharia química da Unifesp chama a atenção para esse tipo de trabalho, que pode servir de trampolim para estudantes que queiram uma carreira futura como pesquisadores e professores universitários. "As instituições de Ensino Superior devem praticar o tripé de ensino, pesquisa e extensão, e dentro disso, desenvolver o aluno para o meio acadêmico", afirma ele, que cita as bolsas do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), como um dos caminhos possíveis para tal estratégia.
 
Portal Universia, 18/03/2010

terça-feira, 9 de março de 2010

Saiba qual é a diferença entre faculdade, centro universitário e universidade

Simone Harnik em São Paulo

Você até pode ouvir um monte de siglas para os nomes das instituições de ensino superior, mas a verdade é que só existem três tipos delas no Brasil: as universidades, os centros universitários e as faculdades. E qual a diferença na prática? Segundo Ivelise Fortim, professora da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e coautora do livro "Orientação Profissional Passo a Passo", basicamente, é uma só: "Quando você está dentro da universidade, tem maior chance de participar de pesquisas e de fazer iniciação científica [projeto de estudos durante a graduação]". Tudo depende, de acordo com Ivelise, do interesse do estudante: "Se ele tem a intenção de voltar sua formação somente para a entrada no mercado de trabalho, tanto faz o tipo de instituição que escolher", aponta. É claro que esta é uma generalização, já que há faculdades que fazem pesquisa séria, têm trabalhos com a comunidade e boa qualidade de ensino. Ao mesmo tempo, também existem universidades que deixam a desejar nas condições de ensino. Por isso, na hora de escolher, é preciso ficar atento se a instituição de ensino cumpre o que é exigido pelo MEC (Ministério da Educação) e pela lei brasileira. Universidade - As universidades devem oferecer, obrigatoriamente, atividades de ensino, de pesquisa e de extensão (serviços ou atendimentos à comunidade) em várias áreas do saber. Elas têm autonomia e podem criar cursos sem pedir permissão ao MEC. As federais são criadas somente por lei, com aprovação do Congresso Nacional. As particulares podem surgir a partir de outras instituições como centros universitários.

Os requisitos mínimos são os seguintes:
•Um terço do corpo docente, pelo menos, deve ter título de mestrado ou doutorado. Quanto maior a titulação dos professores, mais tempo de pesquisa e mais experiência para transmitirem aos estudantes.
•Um terço do professorado deve ter contrato em regime de tempo integral - esses são os profissionais que costumam oferecer maior dedicação à instituição. Quando um docente é contratado para poucas aulas, normalmente, tem menos tempo para atender os universitários e para desenvolver projetos de pesquisa e extensão.
•Desenvolver, pelo menos, quatro programas de pós-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) com boa qualidade - um deles deve ser de doutorado. Centro universitário - Os centros universitários, assim como as universidades, têm graduações em vários campos do saber e autonomia para criar cursos no ensino superior. Em geral, são menores do que as universidades e têm menor exigência de programas de pós-graduação. No entanto, há algumas regras que eles precisam cumprir:
•Ter, no mínimo, um terço do corpo docente com mestrado ou doutorado.
•Ter, pelo menos, um quinto dos professores contratados em regime de tempo integral (observe que o percentual é menor do que o exigido nas universidades).

Faculdade - As faculdades são instituições de ensino superior que atuam em um número pequeno de áreas do saber. Muitas vezes, são especializadas e oferecem apenas cursos na área de saúde ou de economia e administração, por exemplo. Outra diferença para os centros universitários e universidades é a seguinte: quando uma faculdade pretende lançar um curso, ela tem de pedir autorização do Ministério da Educação - ou seja, não tem autonomia para criar programas de ensino. Contudo, as faculdades devem cumprir uma exigência: •O corpo docente tem de ter, no mínimo, pós-graduação lato sensu - normalmente menores do que os mestrados e doutorados.
 
Portal UOL Educação, 09/03/2010

Mulheres Empreendedoras no Brasil fazem até chover

Michelle Achkar (Portal Terra)

Quando se fala em micro e pequenas empresas no Brasil, as mulheres já são metade dos empresários principiantes: 6,3 milhões no total, segundo dados do GEM (Global Entrepreneurship Monitor). Em uma década, o Brasil passou a ser um dos três países com maior índice de empreendedorismo feminino no mundo. Em números absolutos, o país só fica atrás da China e dos Estados Unidos, países bem mais populosos.

Além do crescimento, as áreas de interesse têm se diversificado e algumas passam longe dos campos tradicionalmente tidos como femininos ou do empreendedorismo por oportunidade. É o caso da administradora Majory Imai, 41 anos, que junto com o irmão tem uma empresa que, literalmente, faz chover.


As empresárias brasileiras têm se destacado por abrir negócios em campos de mercado novos, principalmente em áreas ligadas à tecnologia, fazendo do Brasil o segundo país com maior proporção de mulheres à frente de empreendimentos precursores, perdendo apenas para a Hungria, onde são donas de dois terços das empresas nascentes. "Em negócios inovadores e com alta tecnologia agregada, elas começam a romper barreiras e a se destacar dentro de incubadoras de empresas e parques tecnológicos", disse Francilene Procópio Garcia, vice-presidente da Associação Nacional das Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

Segundo ela, o maior acesso à educação é um dos fatores que mais ajudam a desenvolver uma perspectiva otimista em terras brasileiras. Garcia também destaca a alteração de aspectos regulatórios, permitindo igualdade de condições no acesso ao topo de algumas carreiras.

De acordo com a senegalesa Mbarou Mbaye, coordenadora no continente africano do programa InfoDev, do Banco Mundial, para incentivar a presença das mulheres no empreendedorismo, as causas para a falta de maior participação delas são fatores como barreiras culturais e religiosas, sobrecarga de atividades, pouca organização e falta de acesso a crédito. "Muitas mulheres não conseguem obter financiamentos", afirmou.