quarta-feira, 30 de junho de 2010

Quantos formandos podem ser número um? Pergunte a 30 oradores

Educadores e diretores debatem sobre a escolha dos estudantes que discursam na formatura do ensino médio
The New York Times
 
Não haverá discurso de despedida na formatura da Escola de Ensino Médio Jericho no domingo. Com sete formandos em primeiro lugar, reivindicando a honra com médias A, ninguém queria ouvir mais uma sólida meia hora de citações inspiradoras e lembranças bobas. Ao invés disso, os sete irão realizar um esquete de 10 minutos intitulado "2010: Uma Odisseia na Jericho", sobre sua experiência coletiva nesta escola de ótimos alunos em Long Island, concluindo com 30 segundos para que cada um diga algo aos seus colegas e suas famílias. "Quando começamos a determinar que apenas uma pessoa merecia a honra de ser o orador da turma?", questiona o diretor da escola Joe Prisinzano. Em escolas de todo o país o discurso de formatura, uma tradição adorada, está rapidamente perdendo seu significado conforme os admistradores entregam a honra a qualquer aluno nota A ao invés de escolher o melhor entre eles.
 
Os diretores dizem que conceder o discurso de formatura a inúmeros bons alunos reduz a pressão e a competição entre os estudantes e é uma forma mais equilibrada de homenagear as realizações individuais, particularmente quando um e outro aluno são separados por apenas uma fração da nota de ciência do segundo ano. Mas alguns estudiosos e pais criticam o aumento no número de oradores, com os professores relutantes em prejudicar as oportunidades dos alunos mais inteligentes de serem aceitos em faculdades de primeira linha. "É a inflação da honra", disse Chris Healy, professor adjunto da Universidade Furman, que disse que celebrar tantos alunos como o melhor pode deixá-los mal preparados para a concorrência na universidade e fora dela.

Mas não na formatura da Escola de Ensino Médio Stratford nos subúrbios de Houston, no entanto, onde 30 alunos foram condecorados - cerca de 6,5% do total dos formandos - como oradores. William R. Fitzsimmons, diretor de admissões de Harvard, disse ter ficado sabendo de escolas com mais de 100 condecorados e alunos que estudam em casa eleitos como Nº 1 o que tem ajudado a diminuir a importância da distinção. "Eu acho, honestamente, que tem um pouco de um anacronismo", disse. "Esta tem sido uma longa tradição, mas no mundo das admissões para a faculdade não faz nenhuma diferença real". Ainda assim, ser escolhido como o número um da sala e honrado com o discurso de formatura repercute profundamente. "Eu sinto que quando se consegue essa honra, não importa quantos outros também conseguiram", disse Yvette Leung, uma das sete alunas da Jericho, que irá estudar em Harvard. "Ser escolhido como orador é uma honra e uma prova de como nos dedicamos." Por Winnie Hu

Portal IG Educação, 29/06/2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O monge, o executivo e a Administração


Luiz Eduardo da Silva Amaro

Dentre os assuntos campeões de audiência na área da Administração, tem-se certamente a liderança. Junto com motivação, vendas e estratégia, liderança forma um quarteto campeão de faturamento, envolvendo cursos, palestras, consultorias e livros que movimentam bilhões de dólares ao redor do mundo todos os anos. Vários estudiosos dizem que esses quatro assuntos são os mais demandados justamente porque pouco pode ser afirmado sobre eles de maneira categórica. Ou seja, prestam-se a todo tipo de picaretagem. O livro do momento, no Brasil, quando o assunto é liderança, chama-se O Monge e o Executivo, uma obra de pouco mais de 130 páginas que se lê em um dia e que figura na lista da revista Veja há cinco anos, tendo vendido cerca de três milhões de exemplares, 15 vezes mais do que nos Estados Unidos! Apesar de custar apenas 19,90 nas livrarias, seu autor, o consultor americano James Hunter, diante do sucesso em terra brasilis, tem-nos visitado regularmente, cobrando 400 reais de quem quiser ouvi-lo falar sobre um tema que admite poucas verdades.

Apesar de nossa precária memória auditiva, não tem faltado ouvintes, que, já tendo lido a obra, vão atrás de novas pérolas sobre o assunto. Para isso, aliás, seguindo a receita fácil do sucesso, Hunter lançou, em 2006, a continuação do seu best-seller - Como Tornar-se um Líder Servidor -, de mesma faixa de preço, mas tiragem bem menor, o que não causa nenhuma surpresa, porque o como sempre faz menos sucesso do que o o quê. Enquanto este aborda conceitos, classificações e quadros explicativos, só necessitando serem misturados a um enredo de fácil entendimento para entusiasmar o leitor médio, sem exigir dele qualquer ação ou compromisso, o como requer disciplina e sacrifício para se sair da zona de conforto ou, como diria Freud, sobrepujar o “princípio do prazer”.

Aliás, o médico austríaco é justamente o vilão da história. Sua teoria da psicanálise é descrita e taxada, em pouquíssimas linhas, como puro “determinismo”, porque, segundo Hunter, condicionaria o destino dos adultos, de forma definitiva, a experiências e traumas da infância, além de negar nosso livre-arbítrio, conceito filosófico que, na literatura descartável sobre motivação e liderança, geralmente é sinônimo do sempre ilusório “querer é poder”. O mocinho, para Hunter, é Abraham Maslow, psicólogo americano fundador, na década de 1950, juntamente com o também psicólogo e educador Carl Rogers, da Psicologia Humanística, um contraponto “otimista” à psicanálise freudiana. Maslow é autor da “hierarquia das necessidades”, uma teoria da motivação conhecidíssima entre alunos de Administração, que admite depender o comportamento humano de certas necessidades que se manifestam quando insatisfeitas.

Usando a hierarquia das necessidades de Maslow, Hunter defende a ideia de que só chegaremos à auto-realização como líderes e, por extensão, como seres humanos, se formos servos de nossos liderados, fazendo o bem sem olhar a quem. Valendo-se de um truque manjado, mas que sempre funciona – invocar figuras excepcionais para ilustrar receitas fáceis no papel, mas dificílimas na prática -, o autor recomenda seguir os ensinamentos e exemplos dados por Jesus, Gandhi e Luther King. Serve-se, assim, para benefício próprio e sem a menor cerimônia, de homens que refundaram, para os mais diferentes povos, a noção de solidariedade humana. Hunter apenas se esquece de frisar um detalhe: os três foram assassinados, pagando o preço de seus atos com suas próprias vidas, coisa que ninguém iria querer para si, muito menos um presidente ou executivo de empresa, por mais altos que fossem os bônus de final de ano.

Como administrador e professor de Administração, creio não ter aprendido nada com O Monge e o Executivo, que, na lista de Veja, aparece na seção autoajuda e esoterismo, dois termos pouco simpáticos à Administração, uma área do conhecimento que há muito sonha em ser reconhecida como ciência. Se você ficou curioso(a), leia o livro. Aliás, aproveite e leia outro: Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, do filósofo francês André Comte-Spomville. Depois tire suas próprias conclusões.

Revista Gestão Universitária, Edição 226