Trabalho há três anos em uma empresa que, recentemente, anunciou um plano de demissão voluntária ou incentivada (os famosos PDV ou PDI). Embora tenha 38 anos de idade, não tenho mais muitas perspectivas nessa organização. Sinto que fui colocado meio de lado e, desse modo, estou inclinado a aceitar o acordo. Minha dúvida é como as outras empresas veem um profissional que aceitou entrar em um plano como esse. Vou sofrer para conseguir outro emprego da mesma forma que uma pessoa que foi demitida ou essa condição é um pouco melhor? Como essa passagem vai entrar no meu currículo e como devo explicá-la em futuras entrevistas de emprego?
Consultor, 38 anos
Resposta:
A grande maioria das empresas quer talentos, seja os de outras empresas, seja os disponíveis no mercado - especialmente se eles tiverem entre suas competências a de autodesenvolvimento e a de gestão da carreira. Por isso, não se preocupe tanto em como vão interpretar sua decisão de demissão voluntária em um currículo ou em uma entrevista de emprego. Fazer um intervalo entre uma empresa e outra é cada vez mais comum no mundo corporativo. Concentre-se mais no futuro que vai construir.
Se fizer isso, você naturalmente terá uma atitude positiva, sentirá segurança quanto ao que decidiu e mostrará tudo isso em seu discurso e nos contatos que mantiver - a naturalidade importa muito; a autenticidade é uma das coisas que o outro lado mais testa. Existem empresas que ficam inseguras na hora de contratar profissionais em transição, mas a maioria não pensa mais dessa maneira: elas preferem profissionais que tomam em suas mãos a gestão de suas carreiras. Quando você diz que optou por sair de uma empresa em um programa de demissões voluntárias, foi isso que você fez. Assim, aja naturalmente. Isso significa falar dos desafios que você busca e que, infelizmente, esgotaram-se na antiga empresa.
Comecei respondendo o que você perguntou, mas não acredito que essa seja a questão mais relevante. O que me chamou a atenção foi você ter sido tão rapidamente colocado de lado na empresa atual, o que, em teoria, faz com que seja um potencial demitido em um futuro não distante. Qual a razão de isso ter acontecido?
Essa reflexão é importantíssima. Sem ela, será difícil evitar que, no futuro a ser construído a partir de agora, a mesma situação se repita. Pelo que deduzi, você não sabe exatamente as causas disso, nem se mexeu para mudar as consequências - buscando algo novo dentro ou fora da organização, ou mudando alguma coisa em si. É isso mesmo? Em caso afirmativo, por que você não se mobilizou para entender, com seu gestor direto, o que estava acontecendo e tentar virar o jogo? Você deve essas respostas a si próprio.
A escolha é sua, embora a empresa em que você está trabalhando pareça já fazer parte do seu passado. Uma vez tomada a decisão, é preciso se preparar para conversar com o mercado, mostrando dados e fatos relativos aos seus diferenciais competitivos.
Quero ressaltar uma característica que enxergo em você, mais valiosa do que parece ser: bom senso. O fato de você ter considerado aderir a um PDV ou PDI é uma prova disso. Outro atributo seu é que você consegue enxergar que sua vida profissional está estagnada, sem realizações ou reconhecimento. Em suma, você andou metade do caminho ao entender que a empresa não se mostra interessante para você no futuro, nem você se mostra interessante para a empresa. Isso é autoconhecimento e conhecimento do contexto.
O PDV, ou o PDI, pode representar uma oportunidade de alçar novos voos em sua carreira e tudo parece conspirar a favor disso. Mas a decisão é sua, e fazer escolhas nunca é fácil. Trata-se de uma posição que sempre nos leva a abrir mão de algo e que, em um primeiro momento, tem desdobramentos desconhecidos. Mas a vida é e sempre será repleta de escolhas. Essa é a graça.
Karin Parodi é fundadora e sócio-diretora da Career Center e presidente da Arbora Global
Fonte: Valor Econômico - Carreira
25/11/2013
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