Em tempos de redes sociais e Google, os tradicionais CVs continuam tendo seu valor
Hoje em dia, dificilmente alguém é chamado para uma entrevista de emprego
apenas por causa do currículo. Até porque, mesmo que o documento chegue de um
remetente desconhecido na caixa de entrada de um gestor disponível a novos
contatos, em um raro dia tranquilo e o agrade, mesmo assim, a primeira coisa que
ele fará ao terminar a leitura é “dar um Google” no candidato.
Ainda assim, o currículo continua sendo uma ferramenta útil para
profissionais, em geral. É claro que quanto mais alto o cargo em questão, mais
chances de o candidato ser uma indicação de alguém de confiança ou de ser
encontrado no mapeamento de mercado feito por headhunters. Porém, mesmo nesses
casos, o CV é um documento de apoio importante, uma “peça de marketing do
profissional”, como afirma Karin Parodi, sócio-fundadora da consultoria Career
Center. “Um currículo organiza os dados e fatos da sua trajetória de carreira e
disponibiliza os contatos para que seja encontrado”.
Também não adianta caprichar na descrição e não cuidar da sua imagem ao longo
da carreira. Em tempos de rede social, é difícil ter segredos no mundo
corporativo. “A pessoa pode ter um currículo lindamente escrito, mas se não
souber ‘se vender’ pessoalmente ou se não tiver uma boa reputação no mercado,
não será chamada”, afirma Irene Azevedo, consultora de carreira da LHH/DBM.
As redes sociais, especialmente o profissional Linkedin, são ferramentas
complementares para divulgar suas informações de carreira – “e é preciso
usá-las, é estratégico”, afirma Karin, da Career Center. Porém, elas não
substituem o bom e velho CV. “É um material de apoio padrão para os
recrutadores, que deve estar sempre atualizado”.
Joseph Teperman, sócio da consultoria Flow Executivo Finders, diz que só de
bater o olho em um currículo, já é possível sacar algumas características do
candidato. "Desde a diagramação e a fonte que escolheu até o conteúdo que conta
se a pessoa fala inglês ou não, se já trabalhou em muitas empresas e os cargos
que ocupou”. Dependendo da extensão do currículo, Teperman também prevê o tempo
de duração de uma possível entrevista pessoal. “Se o candidato escreve oito
páginas, é sinal de que a conversa vai ser interminável”, diz ele. “Fica claro
que é alguém prolixo”.
A seguir, as principais dicas para você preparar o seu currículo.
1. Se for prolongar o assunto, tenha um bom motivo.
Em geral, um CV não precisa ter mais do que duas páginas. Ir direto ao ponto
e saber sintetizar as informações são características que dizem muito sobre o
candidato, pois já dão uma ideia ao empregador da forma que o profissional
traduz e organiza as ideias.
2. A ordem dos fatores pode alterar as impressões.
Há dois tipos básicos de currículo: os cronológicos e os
funcionais. Os cronológicos ainda são os mais tradicionais,
usados pela maioria das empresas e dos profissionais.
Basicamente, ele segue uma
ordem cronológica dos fatos.
a) No alto da página, próximo ao seu nome, devem estar seus
contatos: e-mail e telefones. “O endereço não é necessário”, diz a
consultora. “Como hoje em dia muita gente disponibiliza o currículo na internet,
sugiro que não coloque essa informação como forma de manter a segurança”.
b) Coloque as informações adicionais: idade, cursos além da
graduação e pós-graduação. “Inclua apenas os que concluiu há até seis anos, no
máximo”, afirma Karin. Nesse item também podem entrar a nacionalidade, o estado
civil e se tem filhos.
c) Objetivo: descreva o cargo específico que pretende
ocupar. “A dica é não ampliar muito as opções”, diz Karin. “Porque um potencial
empregador quer saber em qual atividade você é mais forte”.
d) Resumo das qualificações: como diz o nome, aqui vai uma
breve descrição dos segmentos pelos quais o profissional passou, das principais
áreas que contribuiu e a formação, sem citar a faculdade. “Se tiver um MBA
internacional muito expressivo, pode entrar também”, diz Irene, da LHH/DBM. “É
só para a pessoa que lê ter uma ideia de quem é aquele profissional. Ao longo do
currículo, a pessoa vai aprofundar em cada item”.
e) Em experiências anteriores, liste as empresas em que
trabalhou em ordem cronológica inversa (isto é, a mais recente no alto, seguida
das anteriores), o nome do cargo que ocupou e um resumo das principais
atividades realizadas. É importante ressaltar o que conquistou e contribuiu, de
fato, enquanto esteve lá. Vale contar, sempre em poucas palavras, os principais
projetos dos quais participou e seu papel no grupo. “Algumas pessoas escrevem
que fizeram sozinhos um projeto e, quando vai entrevistar, você vê que ele
participou ou mesmo liderou um time”, afirma Teperman. “Esse tipo de coisa pega
mal. Então, é importante deixar clara sua participação real no trabalho”.
f) Formação acadêmica: relate os cursos de graduação e
especializações que fez, com os nomes das instituições de ensino e os anos de
conclusão.
g) No tópico idiomas, deixe claro qual seu nível em cada
língua citada. Exemplo: inglês fluente e francês básico. Neste item, vale a
mesma atenção recomendada na parte das realizações: atenção à sinceridade. “É
importante saber em que nível a pessoa está de fato para evitar frustrações ou
enganos”, afirma Teperman.
h) Citar os hobbies, como esporte que pratica ou atividade
artística que aprecia, é comum nos Estados Unidos, mas não no Brasil. Mesmo
assim, alguns candidatos optam por incluir no fim do CV suas atividades
extra-profissionais, para comunicar outras competências implícitas. “Geralmente
quem faz isso são as pessoas que fizeram MBA fora do Brasil”, afirma Teperman.
“Afinal, elas tiveram contato com formas de montar o currículo em outras
culturas”. Pode valer se o foco do profissional foi trabalhar em uma
multinacional americana, por exemplo.
3. Quando mudar a ordem dos fatores é indicado.
O currículo funcional é diferente do cronológico em sua forma de ordenar as
informações: enquanto um é linear, o outro agrupa as experiências por
realizações. O profissional lista os principais feitos ao longo da carreira, sem
se prender ao período ou à empresa. “É um currículo mais visual”, diz Karin
Parodi.
Segundo ela, há quatro ocasiões em que a utilização deste modelo é
adequada.
a) Quando a intenção é mudar para uma função que não está refletida nos
cargos que teve anteriormente. “Às vezes, a pessoa vem de uma área de operações,
mas quer migrar para recursos humanos”, diz Karin. Nesse caso, mais atrativo do
que listar as funções que já assumiu, é listar as realizações que, mesmo na área
de operações, aproximaram-na do universo de recursos humanos. “Por exemplo, ter
feito planejamento de carreira de sua equipe ou ter assumido o papel de mentora
de alguém”.
b) Se o profissional ficou algum tempo fora do mercado, também é interessante
ordenar as informações de acordo com seus resultados para não chamar a atenção
ao período em branco.
c) Também pode funcionar se a pessoa só trabalhou em um segmento e não quer
passar uma primeira impressão de ter tido pouca experiência no mercado.
d) O contrário também vale: quando o candidato pulou de uma companhia para
outra e não quer passar uma imagem de instabilidade profissional. Mas atenção: se sua intenção ao escolher o currículo funcional é “maquiar” as
informações ou passar uma boa impressão, saiba que esse modelo pode ajudar em um
primeiro momento, mas, à medida que o potencial empregador se familiariza com
seu conteúdo, todos os pontos precisam ficar claros. “Se a pessoa passou por muitas empresas, o CV funcional pode amenizar um
impacto inicial”, afirma Karin. “Mas depois ela vai ter que explicar bem
explicadinho porque não teve as experiências prolongadas”. Nem que essa
explicação venha na entrevista.
Fonte: Época NEGÓCIOS.
05/11/2013.
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