sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Brasil: menos pesquisas, menos inovação

A competitividade brasileira é ameaçada pela redução do investimento governamental em pesquisas, o que impacta o papel das empresas como agentes de inovação


De acordo com o Global Innovation Index 2012, ranking dos países mais inovadores do mundo realizado anualmente pelo Instituto Insead e pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi), o Brasil ocupa apenas a 58ª posição, após uma queda de nove posições em relação ao levantamento de 2011. Ao mesmo tempo, o Governo brasileiro decidiu, pelo segundo ano consecutivo, cortar os recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Considerando-se os cortes havidos em 2011 e 2012, a verba chegou a dois terços do que era em 2010, o que desagrada os pesquisadores.

Os chamados “investimentos sem retorno”, que dependem do orçamento governamental, foram os mais prejudicados com os cortes. No entanto, como alerta Helena Bonciani Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), sem investimento em ciência, “corta-se vertente da produção científica e do potencial da criação de tecnologia e inovação do País”.

A consequência é, no longo prazo, um golpe na competitividade nacional, embora ela não dependa exclusivamente do governo. Na visão da SBPC, o papel inovador cabe às empresas, mas o governo deve, segundo Helena, olhar para as áreas que podem vir a ser importantes para que a competitividade seja alcançada. “Se o governo quiser realmente que mudemos de patamar, terá de financiar o desenvolvimento e estimular mais pesquisas e estudos científicos, para que as universidades formem pessoas que contribuirão com a inovação”, explica.

Helena, que fez carreira como professora universitária na área de Ciências Biomédicas e é professora titular da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), ainda tem o que comemorar: o Brasil, com muito esforço, chegou à 13ª posição no ranking mundial dos países com maior volume de produção científica do mundo (considerando os artigos científicos publicados em revistas indexadas). “Quando se olha a ciência brasileira hoje, vê-se uma produção de impacto que está sendo citada por outros acadêmicos em outros países.”


Especialistas em commodities

Maria Isabel Montañes, especialista em marcas e patentes e diretora da Cone Sul Assessoria Empresarial, preocupa-se com a falta de reconhecimento mundial do Brasil em áreas que não a de commodities. “Os pesquisadores se valem tão somente dos incentivos governamentais e a falta deles emperra o desenvolvimento tecnológico de qualquer país”, avalia, acrescentando que os empresários contam com os avanços científicos para buscar novos processos e produtos que gerariam mais empregos e alavancariam o desenvolvimento da economia.

Para ela, o risco de não investirmos em pesquisas é sermos apenas fornecedores de matérias-primas e importadores de produtos com alto valor agregado. “Essa é a roda do progresso, a qual poderia ser bem diferente para nós”, adverte, observando, ainda, que as leis que objetivam fomentar a inovação por parte da iniciativa privada, como a Lei do Bem e a InovaSP são inócuas: “Quem procura os privilégios concedidos por essas leis esbarra na burocracia e na falta de visão governamental, em vez de encontrar apoio para atuar no desenvolvimento tecnológico, o único que nos elevará ao nível de país desenvolvido”.

A advogada vê com bons olhos a parceria entre a iniciativa privada e os centros de pesquisas nas universidades, mas avalia que sejam poucas as companhias que busquem tal aliança. Helena, da SBPC, considera positiva a proximidade entre universidade e empresa, que denota a existência de diálogo na tentativa de inovar e desenvolver novos sistemas. Ela afirma que, enquanto à universidade cabe formar cérebros e estimular o novo, à empresa cabe ser o principal agente na busca pela inovação dentro ou fora de sua demanda atual.


Curiosidade: os dez líderes da inovação mundial, segundo o Global Innovation Index

1. Suíça
2. Suécia
3. Singapura
4. Finlândia
5. Reino Unido
6. Holanda
7. Dinamarca
8. Hong Kong (China)
9. Irlanda
10. Estados Unidos


Fonte: Portal HSM
14/09/2012

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