RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS: COMO TREINAR UM TIME ORIENTADO A SOLUÇÕES
Por onde você começa a resolver um problema complexo? Descubra como
funciona o treinamento de Resolução de Problemas aplicado aos funcionários do
Guia Bolso — e como ele aumentou a autonomia do time.
Em uma empresa de
alto crescimento, as chamadas scale-ups, o relógio corre na velocidade dos
cachorros: uma hora vale por duas, um mês por três e um ano por sete. Nesse
ritmo, é vital olhar para a eficiência do time e sua habilidade de resolver
problemas sem desperdiçar esforços e com foco no que pode trazer mais
resultados. Em junho do ano passado, era essa a principal necessidade do Guia Bolso,
empresa apoiada pela Endeavor que
oferece um aplicativo para você fazer sua gestão financeira pessoal.
Enxergando a
necessidade de uma reciclagem do time mais jovem, Paula Crespi propôs aos
analistas de Atendimento, Marketing e Produto uma série de treinamentos que
poderiam ser aplicados pelas lideranças. Ela levou algumas sugestões de temas
para os funcionários e fez uma votação. Os próprios analistas decidiram quais
eram os treinamentos mais necessários para desempenharem bem o seu papel: o de
feedback para a evolução individual e o de problem solving — resolução de
problemas.
Mas se você imagina
que os treinamentos da sua empresa precisam de uma apresentação estruturada,
com Power Point e storytelling definidos, o exemplo do Guia Bolso está aí para
provar que eles podem ser simples, eficientes e baratos. Com uma lousa e todo
conhecimento de Alice Iglesias — head de engajamento na época — os analistas
passaram quatro dias trabalhando em conjunto para solucionar desafios reais das
áreas, a partir da metodologia ensinada. Eles mesmos levavam os problemas e
saiam de lá com o dever de casa para desenvolver até o próximo dia.
O que começou em
apenas três áreas cresceu e chegou na empresa toda. Hoje, o treinamento é
aberto para todo mundo e foi desenvolvido com a ajuda da Ventus Learning,
especializada em programas de capacitação para times de alta performance.
Apesar de ser opcional para o time de desenvolvedores, e já existem planos de
inclui-lo como etapa fundamental do processo de onboarding dos novos
funcionários — assim com o treinamento de feedback.
Por ser um
treinamento bem mão na massa, os resultados apareceram logo. Um dos melhores
exemplos é da analista de engajamento Victoria Giroto, que participou da
primeira turma em 2016. Ela tinha o desafio de aumentar o engajamento do novo
usuário, aquele que tinha acabado de entrar, para que continuasse acessando o
aplicativo depois. Usando as técnicas de problem solving, Victoria analisou
todos os serviços oferecidos pelo app e percebeu que quem usava mais um desses
serviços — o de categorizar uma transação financeira para saber com o que você
tem gastado seu dinheiro — era muito mais engajado do que quem usava os outros.
Com essa informação descoberta, ela foi conversar com o time de Produto.
Lá, encontraram
juntos uma solução de onboarding para novos usuários.
Quando alguém
entrava pela primeira vez no Guia Bolso, recebia a seguinte mensagem: “Hey,
sabia que você pode categorizar uma transação?” E assim o usuário era guiado
até esse serviço. O experimento no aplicativo IOS chegou a aumentar em 30% o
número de usuários retornantes (uma métrica de mercado conhecida como D+1). Hipótese
validada e um exemplo prático de como a metodologia pode ajudar a solucionar
problemas reais.
Mas, como funciona o treinamento?
A abordagem de
resolução de problemas difíceis muda de acordo com o objetivo inicial. No caso
do Guia Bolso, eles precisavam encontrar maneiras rápidas de identificar um
problema e propor soluções, colocando a autonomia na mão das pessoas.
De um jeito mais
simples, o que o método propõe é quebrar um grande problema em partes menores.
Cada parte é estruturada dentro de uma árvore de problemas com os maiores no
topo. A cada nível da árvore, são adicionados elementos táticos e mais
específicos que serão analisados. A análise é conduzida a partir da busca por
fatos e dados, que chegam na hipótese que tem maior potencial de solucionar o
problema. Assim, com a possível solução encontrada, é feita uma síntese do
processo que levou até ela e uma recomendação — a maneira como essa pessoa vai
contar para o time a solução que encontrou.
No final desse
exercício, você precisa ser capaz de responder três perguntas:
- Qual é o problema
- Qual é a solução
- Quais as razões que te levaram a chegar nessa solução
- Qual é a solução
- Quais as razões que te levaram a chegar nessa solução
1) Definindo o problema: Apesar de prático,
o problema deve inspirar as pessoas que vão gastar tempo e energia em busca da solução.
Às vezes, uma escolha de palavras pode definir o entusiasmo com que seu time
abraça um novo desafio:
Além disso, se ele
for muito genérico, sem determinar métricas e tempo de execução, ninguém
saberá, ao final, se o objetivo foi atingido e o problema resolvido. Para isso,
a abordagem SMART funciona para validar se o problema está bem definido.
Se você já tem um
problema em mente que gostaria de trabalhar, passe pelo teste do SMART. Se ele
responder às cinco letras, está pronto para seguir para a próxima fase. Além
disso, o Guia Bolso utiliza uma ferramenta com uma série de perguntas que
formatam o problema, antes de partir para a análise.
Na prática, o que
poderia começar com:
Como podemos
atingir a meta de aquisição de novos clientes neste ano?
Se transforma em
algo como:
Como podemos
adquirir 200 mil novos clientes até dezembro de 2017, otimizando o funil de
vendas, sem aumento significativo de investimento pago em mídia e publicidade?
2) Estruturando o problema
Aqui vai uma
pergunta: Como você faria para comer um elefante?
Parece esquisito,
né?
Mas, a resposta é
simples. uma mordida de cada vez. Ninguém ousaria comer um elefante em uma
mordida só.
Para os problemas
complexos também funciona assim: em vez de lidar com a questão inteira, o ideal
é dividi-la no máximo de pedaços que você puder e, assim, analisar cada um
separadamente. Você parte do problema inicial e segue com sub-perguntas,
adicionando novas camadas no formato de uma árvore de problemas.
Para funcionar,
vale seguir algumas dicas de quem já vem montando árvores lógicas há bastante
tempo:
1. Faça logo uma
primeira versão. Pode haver uma tendência a gastar muito tempo tentando montar a árvore
perfeita. Há mais de uma boa solução de árvore lógica para cada problema.
Assim, você chega a uma resposta melhor mais rápido. Avance rapidamente e
experimente diferentes maneiras de montar a árvore para entender melhor o
problema;
2. Mantenha simples
e ajuste depois: árvores mudam a medida que mais fatos são revelados;
3. Busque novas
perspectivas: sessões de discussão de hipóteses canalizam a criatividade de
todos e tendem a trazer melhores respostas, além de serem mais divertidas .
Experimente uma versão do ponto de vista do CFO e outra do estagiário e veja
como elas podem ser diferentes.
4. Dê um passo de
cada vez. Às vezes, é mais fácil pensar em subquestões e análises e depois
agrupá-las, em vez de trabalhar linearmente; diferentes árvores podem trazer
novas perspectivas ao problema. Se estiver muito difícil pular para o segundo
nível, faça o caminho inverso das questões táticas para as estratégicas.
Se você realizar
esse exercício, vai se deparar com pelo menos 20 perguntas diferentes que, se
respondidas, podem impactar na solução do problema que você está investigando.
Mas, em meio a tantos caminhos, como priorizar aquele que vai te trazer o maior
retorno?
Lembra da história
do elefante? Então, chegou a hora de escolher por qual pedaço da árvore você
vai começar a digerir o problema. Escolha uma das sub-perguntas e trabalhe as
hipóteses relacionadas para chegar mais perto das soluções possíveis. Pode ser
que você tenha tempo de fazer um exercício para cada sub-pergunta, mas na
prática a própria visão da árvore vai te indicar qual pedaço vale mais a pena
investigar a fundo porque tem potencial de grande impacto.
A ideia é que você
encontre o maior número de hipóteses para trabalhar em cima dessa pergunta que
você escolheu. Quanto mais exaustivo for o exercício, maior é a possibilidade
de você ter encontrado no meio de tantas ideias, uma que vai ter maior impacto
na solução do seu problema.
Para a árvore de
hipóteses ser útil, é preciso desenvolver nos funcionários o pensamento
top-down. Isso significa que a solução do problema começa no topo, no que é
mais estratégico e não tático. A principal diferença é que assim o
direcionamento será dado a partir da definição das questões mais importantes e
não dos detalhes de um fato isolado.
3) Desenvolvendo as análises: Definida a pergunta
com a qual você vai trabalhar, chegou a hora de coletar os fatos e dados que
vão te ajudar a chegar nas hipóteses. Nessa hora, a imparcialidade é
fundamental para que os dados sejam a bússola e não digam apenas aquilo que
você quer ouvir. Para isso, é importante manter a visão maior da pergunta que o
guia, ao mesmo tempo em que você mergulha no que é mais específico para
entender a relação entre os dados que você analisa e a hipótese principal.
Lembra da história
da Victoria, analista do Guia Bolso, que precisava aumentar a taxa de
engajamento dos novos usuários no aplicativo? Então, nesse momento de análise
ela foi estudar quais serviços, dentre todos oferecidos, tinham taxa maior de
usuários engajados. E, a partir daí, descobriu que o item de categorizar
transações era o que mais engajava as pessoas a usarem de novo o aplicativo.
4) Sintetizando e criando a
recomendação: Enquanto os dados representam as informações mais cruas, a síntese é uma
versão explicada que responde a pergunta: então, o que? O que eu faço com essa
informação? Está aí a parte mais importante do processo.
A síntese faz mais
do que condensar a informação analisada. Ela ressalta os elementos em comum
entre os fatos, mas trazendo implicações dos fatos e aprendizados – um insight,
que vai levar à descoberta de uma solução.
O mais importante é
que o processo de resolução do problema não acaba quando se descobre a melhor
solução disponível. De nada adianta um insight que não é comunicado para o
time. Por isso, estruturar a recomendação é a etapa final.
Ao fazer uma
recomendação, a estrutura é bastante simples. Você explica o problema,
apresenta a solução encontrada e desdobra quais foram as razões que te levaram
a chegar nessa solução. No caso do Guia Bolso, o exercício de síntese era tão
preciso que o time tinha apenas dois minutos para explicar ao CEO da empresa,
no elevador, o que está acontecendo, quais são as recomendações e o que ele
faria para solucionar o problema. E no caso da sua empresa, o jeito como você
comunica as soluções encontradas para o seu time de lideranças também pode
seguir esse modelo, sem slides de Power Point muito extensos.
A mudança de
mentalidade aqui está no hábito das pessoas de começarem relatando uma
situação, com sua opinião vinculada, para depois chegar ao problema e, por fim,
à solução.
Agora, é comum
ouvir por entre os corredores do Guia Bolso alguém dizer: Para resolver esse
problema, vamos fazer uma árvore? Mesmo que algumas pessoas mais analíticas
tenham mais facilidade do que outras, é uma ferramenta transversal que pode ser
aplicada para qualquer problema complexo que algum deles venha a enfrentar um
dia.
* O treinamento detalhado nesse
artigo foi desenvolvido pela Ventus Learning especialmente para o time do
GuiaBolso. Ele faz parte de uma série de outros programas de capacitação para
times de alta performance. Se quiser saber mais sobre esse tema, entre em
contato pelo contato@ventuslearning.com.br.
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