sexta-feira, 9 de abril de 2010

Personalidade, inteligência e atitude

José Pio Martins

Fui entrevistado por um aluno de Ad­­ministração, que me perguntou quais as três principais características deveriam ser cultivadas por um jovem que está procurando trabalho e quer progredir na vida. Pensei imitar Warren Buffett, o lendário investidor, que afirmou procurar, nas pessoas que ele contrata, três aspectos: integridade, inteligência e energia. Integridade, dizia ele, é fundamental para formar equipes com pessoas honestas, verdadeiras e implacavelmente éticas. Inteligência é a condição para ter pessoas com capacidade de aprender rápido, o que é fundamental no mundo competitivo. Energia é o que faz o profissional agir e atuar com intensidade, aspecto decisivo para a produtividade. Manifestei o pensamento de Buffett em voz alta, o aluno gostou, disse que a questão estava respondida e que se dava por satisfeito. Afirmei que ele estava sendo precipitado e que eu não concordo totalmente com Buffett. Acrescentei: “Ou a sua pergunta está mal-formulada ou a resposta não é essa”. Considerando a base da pergunta, Buffett responde apenas parcialmente à questão. Alguém pode ser íntegro, inteligente e dedicado, dar resultado para o empregador e, mesmo assim, não ser bem-sucedido em um aspecto importante: o sucesso na sua vida financeira.

O mundo está cheio de profissionais de alto nível, que passaram a vida enfurnados em uma fábrica, trabalharam com dignidade, agiram honestamente e se dedicaram muito, mas que envelheceram, perderam o emprego, não formaram reservas financeiras e passaram a depender da aposentadoria privada. Não sendo funcionários públicos, a aposentadoria desses profissionais é pequena, levando à queda inevitável do padrão de vida justamente na velhice, que deveria ser o momento de colher os frutos do trabalho. A premissa na pergunta do aluno era “progredir na vida”, e aí está a armadilha da in­­dagação. Resolvi formular a resposta, abandonando Buffett, por uma questão simples: ele busca características nas pessoas que contrata sob a perspectiva da empresa, não do empregado.

Não abandonei Buffett porque ele esteja errado. Abandonei-o porque a perspectiva dele é a do empregador. Para conseguir êxito profissional, como assalariado, como autônomo ou como empreendedor, as características de Buffett (integridade, inteligência e energia) são fundamentais. Mas, para progredir, formar reservas e garantir um bom padrão de vida no futuro, é preciso algo mais. Optei, então, por três características: inteligência, personalidade e atitude. Inteligência, que é necessária para adquirir os conhecimentos e as habilidades técnicas. Personalidade, que é o jeito de ser da pessoa; o conjunto de traços que fazem o profissional ser íntegro, racional, equilibrado, bom de relacionamento, comportamento elogiável, ou o contrário de tudo isso. Atitude, que tem a ver com ação, foco, direção, coerência, persistência e capacidade de realização. Há pessoas que, apesar de inteligentes, fracassam por defeitos de personalidade e/ou atitudes ruins. Por isso creio mesmo que o êxito profissional de­­pende muito mais da personalidade e da atitude do que propriamente da inteligência.

Quando leio nos jornais que um grande banco estatal elaborou um programa de educação financeira para os seus funcionários (os quais vivem ensinando finanças aos outros), porque constatou que parte deles gerencia mal suas finanças pessoais, concluo que o banco quer ajudá-los não porque eles sejam pouco inteligentes, pouco íntegros ou pouco dedicados. A razão é outra: as personalidades e as atitudes de tais funcionários (e, por consequência, seu comportamento e suas ações) atrapalham a gestão das finanças pessoais e os impedem de “progredir na vida”. Por isso não adianta ensiná-los a operar uma máquina financeira e calcular juros compostos. É preciso ajudá-los a fazer ajustes na personalidade e mudar certas atitudes, o que, aliás, não é nada fácil. Uma das maiores dificuldades que todos temos na vida é “fazer escolhas e tomar decisões”. Outra dificuldade é “agir”. É grande a quantidade de jo­­vens que se formam, ficam pra lá e prá cá, não se acertam e, por isso, não vão a lugar algum. É bem verdade que o mercado de trabalho e o atraso do país contribuem para deixar os jovens confusos. Mas chega uma hora em que é preciso escolher e agir. Tudo, porém, depende da inteligência, da personalidade e da atitude, marcas em função das quais construímos nosso êxito ou nosso fracasso.

Gazeta do Povo, 09/04/2010 - Curitiba PR

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