Contra todas as adversidades, Charles Batte descobriu o seu próprio significado para o sucesso. O jovem, de apenas 25 anos, nasceu em uma das favelas de Kamwokya, um subúrbio de Kampala, em Uganda, no continente africano, e conviveu com todos os problemas comuns aos guetos do mundo.
Rompeu o ciclo vicioso da pobreza que envolvia a maioria das pessoas com quem convivia e, além de ser um dos melhores estudantes da escola, ganhou uma bolsa de estudos concedida pelo governo para cursar medicina na Universidade Makere.
Charles Batte (segundo da esquerda para direita), 25, estudante e empreendedor social |
Mas o seu sonho principal estava além das conquistas pessoais. Sem nunca esquecê-los, Bates, aos 20 anos criou uma fazenda autossutentável que hoje beneficia mais de 50 pessoas e um negócio próprio: um sistema de saúde comunitário para atender famílias em vulnerabilidade social.
Sua trajetória empreendedora foi reconhecida pelo Your Big Year, uma competição que envolve candidatos de mais de 200 países. Após concluir com êxito as tarefas propostas, ele ganhou o prêmio final: viajar por um ano para conhecer de perto projetos de empreendedores sociais de várias partes do mundo.
Entre os destinos, estava o Brasil, que também participa da Semana Global do Empreendedorismo, liderada pela Endeavor. Durante a visita, Batte conheceu diversas iniciativas no país, como o Hurra, o Projeto Quixote, a Casa do Zezinho e o Adapta Surf, todos integrantes da Rede Folha de Empreendedores Socioambientais.
DEPOIMENTO A TATIANE RIBEIRO
"Sempre tive muitos amigos e nós fazíamos todos os tipos de coisas juntos. Vi muitos deles se viciarem em drogas e álcool e perderem todo o futuro nas ruas. Eles não tinham nenhum estímulo para continuar os estudos. Também presenciei muitas mortes de pessoas que ficaram doentes e não tinham condições financeiras para fazer tratamentos médicos. Não foi um período fácil. Mas, apesar de também ser exposto a tudo isso, eu mantive meus objetivos e, bem, hoje estou aqui no Brasil.
Quando eu era jovem, o que mais ouvia nas rádios eram pedidos de ajuda financeira para pessoas doentes que precisavam de tratamento na Índia ou nos Estados Unidos. Desde então, sempre quis ser um médico especializado, para que não fosse preciso sair do país para ser atendido. Tive uma grande amiga que sofria com um problema cardíaco. Ela passava muito mal e sempre pedia para que eu orasse por ela. Então eu prometi que, quando me tornasse adulto, eu seria um cirurgião e faria o transplante do seu coração. Isso fez com que eu me mantivesse firme no meu objetivo e não deixasse de estudar.
No bairro onde nasci, não havia oportunidades de emprego, nem um bom sistema de saúde. As pessoas não sabiam se comunicar e assim não alcançavam sua independência. Ao compreender esses problemas, senti que algo devia ser feito para modificar a situação. Então, com 18 anos, eu estava no colegial e imaginei que uma comunidade rural autossutentável seria ideal para que as famílias pudessem trabalhar e assim conquistarem seu próprio dinheiro. Dessa forma, poderiam aplicar o que recebiam em benefícios para a própria comunidade.
Para iniciar esse projeto, guardei todo o dinheiro que ganhava como mecânico em uma loja de peças de automóveis. Recebia o equivalente a US$15 por mês e, após sete meses, consegui contratar três fazendeiros para iniciar a plantação de feijão em um pequeno terreno cedido pelo meu avô. Quando comecei a faculdade de medicina, já era apto a dar aulas e então consegui investir mais. Hoje são 50 trabalhadores.
Meu trabalho com a comunidade é focado na geração de emprego e saúde. A ideia era fazer com eles tivessem a oportunidade de desenvolver pequenos negócios e eu pudesse montar ali uma clínica de atendimento médico com preços mais acessíveis. Não era o objetivo criar uma instituição de caridade.
Atualmente conseguimos tratar algumas doenças, mas pretendo aprimorar cada vez mais o atendimento para atender melhor mulheres e crianças, principalmente no que diz respeito à nutrição. Na parte educacional, ainda não é possível pagar muitos professores, mas criamos uma biblioteca e também implantamos mais computadores, para que os alunos possam expandir o conhecimento de forma mais independente.
Foco sempre na importância de saber como usar o pequeno capital. Quero que as pessoas desenvolvam seus próprios produtos e por isso também procurei parcerias de profissionais de marketing para que possam orientá-las sobre como vender nos grandes centros.
Me sinto orgulhoso desse processo, porque não é fácil fazer com que cresçam a partir de pequenos recursos. Desejo ser um exemplo de que pode dar certo porque eu não acredito em caridade, mas sim em oportunidades de desenvolvimento.
Gostei muito de ver como há jovens brasileiros com vontade de desenvolver negócios sociais. Além de interessante, percebi que há muitas formas diferentes de empreender. Os empreendedores daqui sabem do seu potencial e aplicam na prática.
A competição Your Big Year é uma boa forma de envolver jovens e fazer com que eles evoluam em seus próprios projetos. Faz com que os participantes se sintam motivados a ultrapassar desafios e a identificar de forma mais clara o que fazem para tornar o mundo melhor.
A conexão com pessoas de diferentes partes do mundo abre muitas possibilidades de desenvolvimento. A oportunidade de viajar é muito importante para a criação de líderes mais humanitários, que é o que o mundo precisa hoje. Essa é uma competição onde não existe apenas um ganhador.
Todos podem se tornar profissionais de sucesso, mas, ao realizarem seus sonhos, nunca se esqueçam das comunidades de onde vieram. Mesmo que se tornem ricos e famosos, não percam suas raízes. A responsabilidade está ligada ao fato de voltar e transformar também o lugar onde nasceu. Façam sempre alguma coisa que mude a vida das pessoas, para que elas cresçam e se desenvolvam. Isso é alcançar o sucesso."
Matéria enviada por: Prof. Norival Carvalho Cunha
30/11/2012
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