Professor da FGV e autor de livro recém-lançado sobre o tema, Paulo Sabbag mostra como a capacidade de resistir a adversidades pode levar ao sucesso
Charles Spencer Chaplin (1889 - 1977), ator e diretor britânico que saiu da infância pobre e conquistou Hollywood, em seu mais famoso papel (Foto: Getty Images) |
Quais as chances de um menino de rua praticamente sem escolaridade, com uma mãe que chegou a se prostituir, tornar-se o ator e diretor mais famoso de Hollywood? Para o professor da FGV e autor do livro “Resiliência”, Paulo Sabbag, Charles Chaplin, o personagem do início da reportagem, é sem dúvida um dos maiores exemplos de resiliência.
Quais as chances de um menino de rua praticamente sem escolaridade, com uma mãe que chegou a se prostituir, tornar-se o ator e diretor mais famoso de Hollywood? Para o professor da FGV e autor do livro “Resiliência”, Paulo Sabbag, Charles Chaplin, o personagem do início da reportagem, é sem dúvida um dos maiores exemplos de resiliência.
“Chaplin tinha tudo para dar errado na vida. Não teve apoio, mas confiou na sua capacidade”, diz Sabbag. “A obra dele é quase uma catarse. Por isso os bêbados (a mãe), os meninos de rua (ele mesmo) em seus filmes”.
A resiliência apontada em Chaplin pelo especialista é um conceito psicológico emprestado da física. Por definição, é a capacidade de o indivíduo enfrentar situações extraordinárias, seja o sucesso ou a perda, em situações com grande estresse.
Para medir o nível da resiliência, Sabbag desenvolveu uma pesquisa científica e criou uma escala. Nessa espécie de termômetro, a cantora Amy Winehouse é um exemplo de baixa resiliência ao lidar com o sucesso – e não com a perda, caso mais comum.
“Ela era talentosa, bem educada, obteve fama e sucesso muito cedo e, a partir daí, entrou em uma espiral de autodestrutuvidade. Me pergunto se o vício por drogas nos adolescentes não é consequência da baixa resiliência que causa dificuldade de enfrentar as dificuldades que a vida coloca”.
A boa notícia, segundo o especialista, é que a resiliência não é uma questão de personalidade, mas uma competência a ser desenvolvida, que sofre mais influência da cultura e do ambiente. Ela pode ser apreendida, com estímulos da educação recebida pela família, pelo contexto escolar ou pela trajetória de cada um. A má notícia é que, mesmo aprendida, a resiliência não é duradoura e varia ao longo da vida. Ou seja, precisa ser cuidada sempre.
“Quando vemos uma criança brincando que cai e se machuca, se ela começa a chorar, mas logo esquece o incômodo e volta a brincar, esse já é um sinal de resiliência. Por essa razão o aprendizado nessa idade é tão intenso: as crianças são bastante resilientes”.
Steve Jobs: o fracasso o ensinou a ser resiliente (Foto: reprodução / internet) |
Jobs (o eterno exemplo)
Amado por suas invenções, o criador da Apple, Steve Jobs, é considerado por Sabbag um exemplo de empreendedor que acabou se tornando resiliente depois de tomar algumas “quedas” no mundo corporativo.
“Ele tinha ataques de estrelismo. Era tirano, classificava as pessoas em gênios ou imbecis. Um péssimo líder. Desenvolveu a resiliência quando foi expulso do conselho da Apple e comprou a Pixar. De volta à Apple, ficou anos sem receber salário. Ele é um exemplo de pessoa que manifestava baixa resiliência por falta de destemperança e, só depois, devido a situações pelas quais passou, desenvolveu uma alta resiliência, suportando inclusive um câncer de pâncreas por nove anos”.
Um modelo de resiliência pela solução de problemas, na opinião do professor, é Amir Klink. Já Viviane e Ayrton Senna, também personagens analisados pelo livro de Sabbag, mostram a força do papel da educação familiar.
Entre os executivos brasileiros, o especialista aponta Marco Stefanini. O empreendendor enfrentou todas as crises econômicas do Brasil, teve derrotas empresariais, reposicionou por diversas vezes a empresa e fez com que se tornasse terceira companhia brasileira mais internacionalizada.
Marco Stefanini: a capacidade de se reinventar na crise, sinal de alta resiliência (Foto: Marcia Tavares) |
Mas é a vida real, segundo o autor, que reúne o maior número de personagens com alta capacidade de enfrentar as adversidades. Rafael Rodrigues, gerente de projetos do Itaú, cadeirante, faz parte da seleção brasileira para triatlo e é campeão de jiu ji tsu. Rodrigues é aluno de Sabbag e, segundo o professor, ele conseguiu sair de uma forte depressão por meio do esporte. O executivo vendeu chiclete na rua para pagar os estudos, conseguiu uma bolsa para se formar em uma universidade, casou com outra portadora de deficiência com dificuldade de engravidar, mas conseguiu dinheiro para o tratamento e, hoje, é pai de gêmeos. “Provavelmente, não fosse pelo acidente, ele não estaria onde está”.
Seis dicas para desenvolver a resiliência
- Somos mais suscetíveis às perdas que ao sucesso. Procure compreender como você funciona diante de uma adversidade.
- Se você reage com compulsividade, precisa aprender a se controlar. Um funcionário que sofre um assédio, por exemplo, pode reagir destemperadamente ou conseguir manter a calma.
- Se a questão é falta de flexibilidade, cursos de criatividade podem ajudar.
- Quando o problema é o estresse, a dança de salão pode ser um bom treino.
- É preciso tornar-se o “cuidador” de si mesmo. Esforço e disciplina conferem resiliência no longo prazo.
- As situações de curto prazo são as mais importantes. Elas funcionam como pequenos exercícios para aumentar a resiliência.
Fonte: Época NEGÓCIOS
19/11/2012
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