quarta-feira, 28 de novembro de 2012

O furação Foster



 
 
Continuidade.
 
Esta é a palavra-chave da cúpula da Petrobras para se referir à troca no comando da empresa, realizada em 13 de fevereiro deste ano. Faz muito sentido. Afinal, Maria das Graças Silva Foster, a atual presidente da empresa, já fazia parte do grupo diretor da companhia e era, portanto, corresponsável pela gestão de José Sérgio Gabrielli Azevedo, seu antecessor. As poucas mudanças que realizou são, de acordo com essa lógica cristalina, apenas ajustes na sintonia fina da principal empresa do país. Alguns exemplos:
 
1. Desde que assumiu, Graça Foster trocou três dos principais diretores da Petrobras – e dezenas de gerentes abaixo deles.
 
2. Todas as metas de produção de petróleo para o quadriênio 2012-2016 foram revistas. Todas. E para baixo. (Lá não se cumprem metas há quase uma década.)
 
3. Durante três meses, todos os processos de aprovação de projetos e cronogramas na Petrobras foram revisados. Todos. Graça reunia-se até três vezes por dia com os responsáveis por cada área, para evitar atrasos como o da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco (três anos além do prazo, custo nove vezes maior que o previsto). Em junho, ela advertiu publicamente seus diretores que eles não têm mais autorização para esticar prazos nem investir acima do previsto.
 
4. A Petrobras tem um novo mantra: a curva “S”, um tradicional método de gestão, para avaliar se as grandes obras estão com a evolução física e a financeira dentro do esperado.
 
5. A empresa iniciou um programa geral de eliminação de gorduras, principalmente na área operacional, que pode resultar em uma economia de até R$ 15 bilhões em um ano.
 
6. O declínio da eficiência dos poços antigos da Bacia de Campos, no Rio (de 89%, em 2008, para 71% no ano passado), foi considerado inaceitável. Graça anunciou um plano específico para recuperar a eficácia perdida.
 
7. As reuniões da diretoria, às quintas-feiras, passaram a ser tão minuciosas que começaram a varar madrugadas. A solução foi dividi-las. Agora, ocorrem às segundas e quintas.
 
8. Ninguém é louco de desafiar o dono. Mas começaram a ser ouvidas queixas em temas sagrados para o governo: “O preço da gasolina tem de subir”, disse Graça, em junho. “Valorizo o conteúdo local possível”, afirmou em março. “Rejeito o conteúdo local puramente nacionalista.”
 
9. O orçamento da área de exploração e produção da empresa subiu de 53% dos investimentos para 63%. O objetivo do reforço é obter três coisas: petróleo, petróleo e mais petróleo.
 
10. A pressão sobre os funcionários de alto escalão subiu um tiquinho. “Conforto é uma palavra proibida entre nós”, disse Graça, em junho. “Trabalhamos sob total desconforto. É desconforto 365 dias por ano, 24 horas por dia.” Se você faz parte da cúpula e recebeu um e-mail às 3 da manhã, não precisa checar quem é o remetente.
 
Para você, eu não sei, mas para esta revista essa continuidade está parecendo... uma baita ruptura. As opiniões e experiências de analistas, investidores, fornecedores e funcionários ouvidos ao longo de 40 dias permitem concluir que a maior empresa do Brasil está passando por uma senhora revolução.
 
Antes tarde do que tarde demais. Os indicadores de produção de petróleo da companhia vinham caindo de forma inesperada. Em agosto, a produção atingiu 1,92 milhão de barris por dia, o mesmo patamar de três anos atrás. É urgente reagir. Até para construir um futuro diferente – seja com a exploração da camada de petróleo do pré-sal, seja com um sonhado mercado de etanol, seja com os frutos de pesquisas de combustíveis revolucionários –, a Petrobras depende do caixa da extração de óleo dos campos atuais. E, num gigante de um setor de ciclos estendidos, as ações demoram para surtir efeito: qualquer mudança implementada hoje só terá impacto em dois ou três anos. Por isso, era preciso bulir com o gigante.
 
E a presidente Dilma Rousseff buliu.
 
 
Fonte: Época NEGÓCIOS
28/11/2012

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