Pesquisa feita por uma grande organização de comunicação estima que 30% dos cem milhões de brasileiros que fazem parte da Classe C querem algo mais do que reality show, esporte ou programas de auditório. Essa turma quer mais arte e mais cultura. O exemplo está aí:
Em nosso país tradicionalmente vemos pessoas fazendo fila na madrugada, em geral para pegar senha para atendimento em hospital, para atendimento no INSS ou para entrevista de empregos. Que país é esse que está nascendo, no qual vemos agora fila na madrugada para entrar em museu?
Toda aquela gente na fila do CCBB participava da Virada Impressionista, uma abertura em grande estilo da exposição do maior acervo de obras do Impressionismo já trazido ao Brasil, programada para uma jornada inédita de 24 horas diretas entre o sábado (27) e domingo (28).
Estive lá. Peguei duas horas de espera na tal fila. Mas valeu! Adorei a exposição e também fiquei surpreso com a diversidade de pessoas dispostas a encarar a espera para entrar.
Na fila não estavam só as pessoas viajadas e mais afluentes, sobretudo moradores da tradicional Zona Sul carioca, que já conheciam o acervo de obras impressionistas que o Museu d´Orsay de Paris emprestou ao CCBB. Era, de fato, um público constituído de representantes dos mais diversos estratos socioeconômicos. Uma parte considerável era, na verdade, de pessoas de classes bem populares. Gente das favelas, dos subúrbios, da Baixada Fluminense que se misturava na fila aos tradicionais conhecedores, aos “espertos” e aos experts das artes plásticas.
A direção do CCBB pode ter ficado surpresa com o sucesso da Virada. Mas eu acredito que eles sabiam o que estava fazendo. Devem ter tomado conhecimento de que a demanda por entretenimento cultural de alto nível está em franca ascensão, mesmo entre as pessoas que são da classe média emergente.
Recentemente tomei conhecimento de uma pesquisa feita por uma grande organização de comunicação de que 30% dos cem milhões de brasileiros que fazem parte da Classe C – o tal Cezão que se torna o motor do consumo da nossa economia! – querem algo mais do que reality show, esporte ou programas de auditório. Essa turma quer mais arte e mais cultura.
Quer museus, quer centros culturais, quer eventos de bom nível de artes, plásticas, cênicas, música; quer entretenimento que seja mais cultura e menos circo. Basta ver o sucesso que é a programação de R$1 no Teatro Municipal no Rio quando ficam lotados concertos de música clássica, balé, ópera e coisas do gênero.
As empresas da mesma forma e inspirados pelo êxito do CCBB devem se esmerar e preparar mais biscoitos finos, mais pão para o espírito. Sobretudo porque a demanda agora não é mais de meia dúzia de gatos pingados, como no século passado.
Seria ótimo se os executivos de marketing começassem a entender que não é só uma questão de renda e mercado. Os publicitários precisam, por sua vez, pensar fora da caixa; precisam saira mesmice de usar esportes para passar a mensagem de seja lá o que for. É preciso entender que existe uma percepção diferente de valor que essa gente está buscando. E isso é muito bom para o país.
Estamos assistindo a construção de uma nova elite que não está meramente buscando privilégios e direitos, mas uma categoria de pessoas que se prepara para assumir mais as responsabilidades cívicas dos que as assumidas pelas elites que a antecederam. São pessoas que estão sendo mais inspiradas pela trajetória do Ministro Joaquim Barbosa do que pelas histórias embaladas pela publicidade acerca de desportistas e celebridades efêmeras.
Essa gente vem cheia de esperança e começa a exercitar o pensar grande. Essa é a nova elite que deve fazer deste país uma nação verdadeiramente classe mundial.
Fonte: Época NEGÓCIOS
26/11/2012
Fonte: Época NEGÓCIOS
26/11/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário