segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Como empreender com baixo risco num momento delicado da economia

Seis setores aquecidos e promissores para quem quer empreender
 
Por Jack London*
 
O sonho de todo colunista é escrever sempre matérias positivas, que permitam aos leitores fazer suas opções com segurança e confiança. Mas a responsabilidade de todo colunista é maior do que seus sonhos e, por essa razão, alertar o leitor ao mesmo tempo em que sugere novos caminhos é um eterno desafio.
 
Estamos vivendo um momento difícil da economia mundial. O Brasil tem tido até agora um desempenho muito melhor do que grande parte das economias que eram consideradas prósperas e seguras. Mas estamos num momento de indefinição, em que posso escolher muitos indicadores positivos na economia, mas posso também escolher diversos indicadores negativos e preocupantes. As taxas de desemprego continuam baixas, mas o varejo ampliado teve seu pior momento da história em setembro deste ano, quando caiu 10%.
 
O impulso de empreender é uma das explicações para as baixas taxas de desemprego. Quanto mais brasileiros tentam abrir suas próprias empresas, menos cidadãos procuram empregos, diminuindo a pressão sobre a taxa de desemprego.
 
Muitos leitores me escrevem, a cada artigo, com comentários e perguntas. Praticamente todas as perguntas podem ser resumidas numa só, a do leitor Marcello, que se comunica em uma frase apenas: “Estou começando no mercado de empreendedorismo, preciso de instruções claras e detalhadas.”
 
Aí é que mora o perigo, caro Marcello. Como garantir, num momento de instabilidade, que as informações, não importa quais forem, sejam claras e detalhadas?
 
O que podemos fazer, com mais segurança, é indicar os setores da economia que estão apontando para o futuro, com oportunidades que podem ser maiores não apenas hoje, mas nos próximos anos.
 
Que tal começar por alguns setores da economia considerados vitais para o futuro, especialmente no Brasil? Vamos à lista:
 
 
1 - Educação – Não haverá futuro econômico sustentável no Brasil com a manutenção das atuais taxas de ignorância e analfabetismo funcional. Investir em educação é hoje aposta segura para pequenos e grandes negócios. Aprender permanentemente é uma necessidade cada vez maior, e as fontes de aprendizado se multiplicarão, não ficando mais restritas aos colégios e universidades.
 
 
2 - Transportes alternativos – Dados do IBGE recentemente divulgados mostram que há dois produtos no Brasil cujo crescimento de vendas se aproxima ao dos computadores: bicicletas e motocicletas. A venda de motos vem crescendo a uma taxa de 40% nos últimos anos. Serviços de apoio, manutenção e sofisticação de motos e bikes são um mercado fortemente favorecido por esse movimento e acessível a pequenos empresários.
 
 
3 - Energia – A necessidade de encontrar novas formas de energia, baratas e limpas, é um desafio permanente. Pequenas comunidades já podem se reunir e construir sistemas próprios de geração de energia, e os serviços de manutenção e ampliação desses serviços podem ser mantidos por pequenas empresas locais.
 
 
4 - Novas aplicações para velhos materiais – Utilizar materiais já existentes no mercado, mas com uma ótica de economia sustentável, gera novos produtos, mais adequados ao meio ambiente e aos locais de moradia. Cada novo produto nessa área encontra mercado rapidamente.
 
 
5 - O mercado dos “envelhecentes” – Não gosto da definição “terceira idade” nem da palavra idoso, que na sua gênese tem o termo “ido”, como se rotulasse pessoas que “já foram”. O termo “envelhecente” dá melhor conta do assunto. Num certo momento da vida adolescemos, no outro adultecemos e finalmente envelhecemos. O Brasil caminha rapidamente para ser um país de envelhecentes, e todo um novo mercado de trabalho se abre com essa realidade: empresas de cuidadores, de alimentos apropriados, de materiais especiais para segurança pessoal dentro de casa, sistemas de educação programados e pensados para essa fase da vida, softwares, sites, games e aplicativos específicos. Em breve, escolas de segundo grau estarão sendo fechadas por falta de alunos e se transformarão em centros de convivência, e todos eles precisarão de serviços e habilidades que ainda não temos, tais como métodos de saúde prolongada, meditação, reinserção social, e tantos outros.
 
 
6 - A indústria cultural e criativa – No começo do século XX, o maior violinista de todos os tempos, o italiano Paganini, escreveu um texto em que pedia a proibição das recém-criadas fábricas de discos, que, segundo ele, deixariam na miséria todos os artistas, que viviam de apresentações ao vivo. Cem anos depois, a história dá uma volta completa e os artistas voltam a ter o contato direto com o público como forma essencial de remuneração. Foram-se os LPs, os CDs, e criam-se oportunidades de trabalho e renda para milhares de empreendedores nas pequenas cidades brasileiras, com a criação de espaços culturais que passam a receber artistas de grande expressão. Em paralelo, a necessidade que essas cidades terão de serviços de som, vídeo, iluminação e tantos outros. Que tal pensar num pequeno estúdio de som ou de produção cultural mais amplo na sua comunidade ou em seu município? Palavras como sampleadores, mixagem e masterização passam a fazer parte da vida de milhares de pessoas. A indústria criativa se multiplica e se diversifica, chegando, como as motos e as bikes, ao interior das cidades e do país. Que tal pensar numa Unidade Móvel de Som e Imagem, com transmissão via CAT5 ou fibra ótica, áudio de dois canais via pen drive e operação intuitiva com tela VGA? Ou outras e outras necessidades locais que vocês podem identificar com mais precisão?
 
 
Vocês devem ter reparado que não citei nenhuma oportunidade exclusivamente “digital”, e isso tem a ver, penso eu, com a necessidade de darmos um ponto final na ideia de que “empreender” é criar “um produto digital”, um site, ou um aplicativo.
 
Temos muito a fazer para criar uma economia estável e em crescimento acelerado no Brasil, e as oportunidades de negócios que você vai encontrar no mercado não são apenas os produtos digitais. Um mundo criativo, de alta tecnologia embarcada, espera por você, com produtos físicos, serviços e atendimento de necessidades.
 
Pense digital, mas não pense apenas digital.
 
Acabo o artigo e fico na dúvida: alguma dessas informações pode ser considerada “clara e detalhada”?
 
O que serão, neste mundo flexível e febril, coisas “claras e detalhadas”?
 
 
(*) Jack London é fundador da Booknet, primeiro negócio virtual que ganhou fama no Brasil, e da Tix, empresa de comercialização de ingressos online. Atualmente é professor, consultor e empreendedor.
Fonte: Revista PEGN
19/11/2012

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