sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Inovação não se limita à tecnologia; Brasil está cheio de exemplos

O ponto central do empreendedorismo, pelo menos dos que pretendem ter impacto, é a inovação. Para inovar, todos concordam que há necessidade de criar, sair da caixa e quebrar paradigmas.

Todavia, em eventos relacionados com empreendedorismo e inovação tenho assistido a frequentes referências a empreendedores e inovadores como Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg, Henry Ford, Albert Einstein e Leonardo da Vinci.

Isso mesmo em fóruns envolvendo professores, diretores e até reitores de instituições de nível superior. Isso me incomoda, visto que parecem ser sinais de mapas mentais ou de paradigmas de pensar muito sutis e persistentes que talvez nos leve, de forma até inconsciente, a desvalorizar a capacidade autóctone de criar e inovar.

Não estou querendo defender uma posição de fechamento aos grandes nomes que colaboraram para configurar o mundo tal como o conhecemos hoje. Porém, ficaria mais satisfeita se, ao lado desses grandes inovadores, fossem citados os feitos e exemplos de grandes empreendedores e inovadores brasileiros. E que os exemplos não focassem apenas o empreendedorismo tecnológico, pois há diversas outras formas de inovar e ter um grande impacto sobre a sociedade.


O espírito empreendedor de Attilio Fontana

Entre inúmeros empreendedores e inovadores brasileiros, ganharíamos muito se as menções também incluíssem, por exemplo, Attilio Fontana, que na primeira metade do século passado, arriscou a ir para Bom Retiro, oeste de Santa Catarina, que começava a ser desbravado graças ao transporte ferroviário que lá chegava. Percebeu que a serra era rica em terras férteis, com boa produção de cereais e de alfafa, mas com um comércio ainda incipiente e uma vila bastante acanhada.

A seguir, em 1942, aceita um grande desafio proposto pelo prefeito local, numa cidadezinha criada há menos de uma década – Concórdia. Um frigorífico e um moinho de trigo tinham muita dificuldade para se manter e evoluir. Novamente, o espírito empreendedor e inovador fala mais alto, e Attilio se estabelece lá. Mais à frente funda a S.A. Indústria e Comércio Concórdia, mais tarde denominada de Sadia.


Do frigorífico à aviação

Vale conhecer as inúmeras inovações que introduziu. Exemplo: na logística, quando inicia o embarque dos produtos perecíveis de avião, em 1952, alugando um avião da extinta Panair.

Logo parte para comprar o avião e arrendar mais dois de outra empresa como forma de conseguir constituir uma companhia de aviação e ser beneficiado pelos preços de combustíveis subsidiados.

Após superação de grandes obstáculos, cria a que décadas à frente veio a ser conhecida como Transbrasil. Desse modo conseguia fazer seus produtos chegarem rapidamente ao mercado consumidor, e com frequência.

Outra grande inovação foi a introduzida por seu sobrinho, Victor Fontana. Ele iniciou o que hoje conhecemos como “integrados”: propuseram a criadores receberem matrizes de porcos de determinada raça, criá-los em instalações higiênicas e alimentá-los com a ração provida pela Sadia.

Fizeram os primeiros testes com criadores bem conhecidos e que residiam em locais muito fáceis de ser vistos por outras pessoas. Assim, através dos resultados, convenceram os locais da eficácia desse sistema, o qual se disseminou amplamente no país.

Não satisfeitos com isso, trabalharam no aspecto da educação, treinamento e comunicação com os habitantes. Criaram a Rádio Cultural de Concórdia, que desempenhou um papel enorme na orientação quanto aos cuidados para melhorar a criação dos suínos e também com respeito à lavoura, como plantar, diversificar as culturas e obter financiamento. Criaram ainda a Associação Rural de Concórdia e uma área da empresa Sadia voltada para o fomento agropecuário.


País inova na agropecuária

Sei que o apelo do empreendedorismo inovador tecnológico é muito forte, sobretudo nas mentes urbanas dos trabalhadores do conhecimento. Mas o nosso país é muito forte em produção de commodities e na agropecuária.

Por isso, advogo que vale temperar o “cardápio” dos exemplos que oferecemos aos nossos alunos com outros que mostrem esse outro lado do Brasil de que tanto dependemos. Afinal, os resultados da inovação brasileira na agropecuária podem ser percebidos não somente na balança comercial, como também em qualquer ida ao supermercado.

E, se você quiser voltar a esta coluna, na próxima semana destacarei outros exemplos de inovação de empreendedores e empreendedoras brasileiros.


28/09/2012 - 06h00
Por Rose Mary Lopes Colunista do UOL, em São Paulo, professora e coordenadora do núcleo de empreendedorismo da ESPM.


Artigo enviado por Professor Norival Carvalho Cunha

Nenhum comentário: