segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Especialistas fazem comparação sobre a situação dos países da sigla

Ao analisar a inovação das economias dos países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), nos últimos 20 anos, especialistas observam que o Brasil e a Rússia possuem modelo de evolução econômica mais semelhante aos países desenvolvidos, com expressivo e crescente peso no setor de serviços e decréscimo de ênfase no setor industrial. Para alguns profissionais, é muito difícil comparar avanços na área de inovação no Brasil em relação aos outros países emergentes desta sigla.

“China e Índia, no entanto, possuem maior ênfase, nesse período de 20 anos, em seus respectivos processos de industrialização. Esse e outros fatores associados têm ajudado essas economias a crescerem a taxas superiores às brasileiras, no período”, avalia Leonel Cezar Rodrigues, PhD em Administração pela Universidade de Vanderbilt, nos Estados Unidos, e professor do Doutorado em Administração da Uninove.

Na análise de Rodrigues, o potencial de inovação do Brasil como país membro do BRIC é indeterminado, mas certamente deverá manter sua importância relativa, pelo menos a médio prazo, principalmente pelo crescimento do PIB brasileiro (Produto Interno Bruto) no contexto mundial - já é a sétima economia.

“Por outro lado, as taxas de investimentos internos no desenvolvimento da economia brasileira (aproximadamente 16% a 17%, que advêm das taxas de formação de capital bruto), em comparação com cerca de 30% da Índia e cerca de 40% da China, indicam que vamos ter um problema”, afirma o PhD em Administração.

Guto Grieco, coordenador do Centro de Inovação e Criatividade da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), tem uma análise crítica ao ser questionado sobre o processo de inovação brasileira dentro da sigla. “Falar em inovação no BRIC, como um conjunto, é quase que ‘forçar a barra’. Em inovação, não há uma unidade ou modelo comum entre estes países, que estão em fases distintas de inovação por conta de questões institucionais que diferem devido aos seus regimes políticos”, afirma.

De acordo com ele, a China tem uma política de inovação diferente por priorizar algumas áreas para investir. Quando uma empresa chinesa se torna especialista em algo, consegue produzir em grande escala, a preço menor e focando nos resultados a longo prazo. Desta forma, fica difícil para as outras empresas do BRIC entrarem nesta competição.

“Os brasileiros se consideram muito criativos e inovadores, mas o que mede a inovação de um país tecnicamente? Uma das maneiras é por meio do número de patentes depositadas. Hoje, no BRIC, a China tem um número de patentes muito grande. E, no Brasil, falar em número de patentes é algo que precisa melhorar muito, como estimular muito mais a questão da propriedade intelectual. Qual a isenção de impostos para quem deposita patente? Quais são os benefícios tributários para pesquisadores?”, afirma Grieco.

O especialista lembra que foram feitos investimentos no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), mas esta autarquia federal ainda precisa de recursos e de pessoas. Enquanto que, em outros países, uma análise de patente pode demorar meses, no Brasil, pode demandar o mesmo número, mas de anos.


Realidade

Conforme Grieco, todos os equipamentos eletrônicos dependem de semicondutores. No Brasil, os eletrônicos são montados, mas praticamente não são produzidos mais semicondutores. “Por incrível que pareça, já tivemos fábricas de semicondutores que foram embora. Inovar é fazer algo novo que gere valor. Algo melhor ou mais barato. No Brasil, dá para fazer algo mais barato? Temos o problema tributário, os impostos são altos e a questão da mão de obra qualificada, que é escassa e muito cara. Sobre a logística deste país continental, temos muitas limitações de infraestrutura. O governo tem alguns incentivos à inovação, mas são iniciativas que têm que crescer muito”, destaca.

Existe a lei no Brasil de que o menor de 16 anos não pode trabalhar. Todos os dias, Grieco lembra que são vistos menores nos semáforos. “Essas crianças que não estudam, amanhã, não terão capacidades técnicas. O que estamos fazendo?”, questiona o professor.

A China é acusada de copiar muitas coisas, mas, de acordo com ele, quando se copia e reduz o custo, houve uma inovação. “O grande problema é quando a qualidade e a propriedade intelectual não são respeitadas. Para inovar, são necessários muitos recursos? Não necessariamente. Na Índia, por exemplo, houve o desenvolvimento da cirurgia de catarata a preços mais baixos. E os americanos foram aprender isso com os indianos”, exemplifica o coordenador do Centro de Inovação da ESPM.

Em outros países, existe muito mais agilidade para adequar a legislação às inovações. “No Brasil, muitas vezes, as inovações não podem ocorrer, pois ferem a lei que está atrasada. As leis não estão adequadas a modelos de negócios mais inovadores”, conclui Grieco.

O fato é que o Brasil, Rússia, China e Índia possuem interesses e políticas de crescimento diversificados, não congruentes. Daí, talvez o motivo de não se alinharem simplesmente como um bloco de força econômica e com correspondente poder político. “O que coloca esses países num patamar acima de simples emergentes é seu potencial econômico determinado pelas suas capacidades agrícolas, industriais e de serviços”, explica Leonel Rodrigues.

De acordo com ele, se olhar, porém, o direcionamento do crescimento econômico desses países, pode-se observar que a China focou o seu crescimento para a exportação, baseada em domínio tecnológico, e obteve o crescimento mais expressivo entre os quatro países. A Índia teve uma orientação próxima à China, focada para o desenvolvimento industrial, mas ainda possuía muitos entraves tarifários e controle estatal, que tomaram sua atenção durante muito tempo nessas duas últimas décadas.

“O Brasil ainda não conseguiu se libertar das barreiras não-tarifárias que se opõem aos seus esforços de exportação e continua enfrentando o problema de redução das tarifas internas, mas a meu ver não tem conseguido criar uma alavanca orientadora, como a China, para tornar seus produtos industrializados mais competitivos”, afirma o professor do Doutorado em Administração da Uninove.

Veja ainda na matéria Inovação no BRIC: é preciso aumentar o poder de exportação a opinião de especialistas sobre como as exportações também impactam o processo de inovação.


Fonte: Portal HSM
01/08/2011

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