Como será a economia brasileira nos próximos dois anos? Recuperaremos o dinamismo, voltaremos a crescer a taxas mais robustas e a gerar mais oportunidades ou repetiremos a trajetória de crescimento baixo de 2011-2012?
Esta incerteza –que esteve no centro do debate entre economistas, políticos e formadores de opinião no último trimestre de 2012– se acirrou após o anúncio do crescimento do PIB do 3º trimestre do ano passado, sendo o elemento chave em que se baseiam nossos cenários futuros. Com o objetivo de dar orientações e guiar análises e decisões, projetamos dois cenários para o próximo biênio. No mais pessimista, o PIB mantém uma trajetória de baixo crescimento, em torno de 2,0%, em 2013, e 2,5%, em 2014. Pela previsão mais otimista, o PIB cresce em torno de 3,5% em 2013 e 4,0%, em 2014, embora persistam inflação alta e forte apetite tributário.
O melhor cenário: retomada de crescimento
Neste cenário a conjuntura internacional melhora e os riscos diminuem. Os Estados Unidos solucionam o “abismo fiscal”, acertam uma trajetória de redução do déficit público de longo prazo e mantêm um crescimento entre 2 e 2,5%. A China cresce mais que em 2011. A Europa mantém baixo crescimento, mas os países em maior dificuldade começam a superar a fase mais aguda da sua crise. A expansão global alcança os 3,5% em 2013 e pode chegar a 4% em 2014.
No Brasil, o consumo continua forte. Os estímulos governamentais começam a surtir efeito, seja na redução de alguns custos, seja na aceleração dos grandes programas de investimento – rodovias, ferrovias, energia, logística e obras para a Copa do Mundo. Com tudo isso, e também por conta dos juros que permanecem baixos, cria-se um ambiente favorável à recuperação da indústria de transformação, extrativa e da construção civil. Ademais, os programas de concessão e privatização em vários setores da economia deslancham e aceleram progressivamente. E o agronegócio permanece dinâmico.
Neste contexto, a confiança dos empresários vai sendo retomada e a taxa de investimento expande, de início moderadamente mas acelerando para mais que 5% ao ano.
Como consequência, o PIB cresce em torno de 3,5% em 2013 e 4,0% em 2014, com taxas de desemprego inferiores a 5%. Dois problemas, contudo, persistem: a taxa de inflação –que permanece acima da meta e é a mais alta entre os emergentes– e a carga tributária elevada.
O cenário adverso: inércia e baixo dinamismo
A conjuntura internacional não apresenta nenhuma ruptura ou evento extremo (como o fim do euro, por exemplo), mas continua complicada e com elevado nível de incerteza. Os Estados Unidos só conseguem alcançar uma solução precária e transitória para o “abismo fiscal”, o que inibe o investimento privado e deprime as taxas de seu crescimento para níveis abaixo de 2% ao ano. A China reduz um pouco mais seu crescimento, para um patamar em torno de 7% a 7,5% ao ano e a Europa, como um todo, mantém-se estagnada com a persistência da crise em boa parte dos países da Zona do Euro. A expansão global não ultrapassa os 3,0%, em 2013, e chega no máximo a 3,5%, em 2014.
No Brasil, o modelo de crescimento baseado na expansão do consumo dá sinais de esgotamento, inclusive por conta do elevado endividamento das famílias. Ao mesmo tempo, os estímulos governamentais demoram a produzir efeito, mesmo nos grandes programas de investimento. Apesar dos juros baixos e a inflação sob controle, a aversão ao risco permanece e reduz a propensão ao investimento. Isto afeta, inclusive, a realização dos programas de concessão e privatização da infraestrutura, que evoluem abaixo da expectativa inicial. Consequentemente, a recuperação da indústria como um todo é tímida. O agronegócio permanece dinâmico, mas os gargalos logísticos e burocráticos reduzem sua competitividadeNeste cenário, a economia brasileira perde atratividade em relação aos demais emergentes e aos seus vizinhos mais dinâmicos da América Latina: México, Chile, Peru e Colômbia. Como consequência, o PIB mantém uma trajetória de baixo crescimento, dentro da faixa de 2011-2012: cresce em torno de 2,0% em 2013 e 2,5% em 2014, com taxas de desemprego entre 5 e 6%. A taxa de inflação permanece acima da meta, é a mais alta entre os emergentes; e a carga tributária mantém-se elevada.
Comparando e avaliando os dois cenários
Na comparação da evolução do PIB brasileiro em 2011 e 2012 (estimativa) e nos dois cenários para 2013-2014, as bandas superior e inferior estão dentro da média dos prognósticos respectivamente mais otimistas e pessimistas entre os hoje predominantes no mercado. E por fim, um cenário plausível é um misto de ambas projeções: crescimento mais baixo em 2013 e mais elevado em 2014, fruto do amadurecimento dos efeitos dos estímulos governamentais e de uma redução do endividamento e inadimplência das famílias.
As melhores alternativas de investimento
Em qualquer um dos dois cenários –em um mundo cujo motor econômico reside no binômio conhecimento/inovação - a educação é um investimento obrigatório, seja de pessoas, seja das empresas. Tanto a educação regular e profissional dos mais jovens, como as especializações e aperfeiçoamentos dos que já estão no mercado são essenciais para a produtividade e empregabilidade. Nas empresas, programas de educação corporativa tendem a dar um bom retorno e o risco é muito baixo.
Para as famílias, habitação e planos de saúde e previdência são as alternativas de investimento mais racionais em médio e longo prazos, independentemente dos cenários. E para aqueles que dispõem de mais possibilidades financeiras, há um vasto leque de produtos financeiros no mercado, com destaque para as ações da bolsa, relativamente baratas, surgindo como um investimento atraente para pessoas com maior propensão ao risco.
Com o aumento da volatilidade e das incertezas é recomendável às empresas fazerem investimentos no sentido de aumentar sua capacidade de antecipação e resiliência, incluindo ajustes competitivos em produtos, serviços, modelos de negócios, eficácia operacional e qualidade da gestão.
Já os grandes investidores devem preparar-se, com antecedência, para aproveitar as múltiplas oportunidades em infraestrutura e energia, certamente nossa mais expressiva fronteira de expansão. Há uma incerteza de quando esta oportunidade se materializará em grande escala, mas é certo que ocorrerá ainda nesta década.
Com uma visão mais larga, as incertezas podem ser reduzidas e melhor administradas.
Por Claudio Porto, presidente da Macroplan Prospectiva, Estratégia & Gestão.
Fonte: Portal HSM
28/03/2013
Um comentário:
Nós, como empresas, esperamos a retomada do crescimento para o bem todos.
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