De acordo com o Professor da University of Pittsburgh, “sistemas modernos de apoio à decisão reúnem conceitos de áreas fundamentais, como a análise estatística dos dados, compilação de dados, pesquisa operacional e de economia, além de mais campos de aplicação, tais como marketing”.
O ambiente em que os líderes estão inseridos exige velocidade na tomada de decisões, mas cada vez há um maior volume de dados e uma variedade de informações. Em um cenário onde o mundo está ligado economicamente, socialmente e tecnicamente, o desafio é desenvolver mecanismos que promovam a utilização racional, eficiente e inovadora de informação, que são frequentemente isoladas.
Em entrevista exclusiva ao Portal HSM, Prakash Mirchandani, professor e consultor de Administração de Negócios da University of Pittsburgh, defende a criação de uma capacidade organizacional dentro das companhias para o uso e análise das informações.
“Organizações de alto desempenho têm duas vezes mais probabilidade de usar a análise para tomada de decisão do que as organizações menores. Os sistemas modernos de apoio à decisão reúnem conceitos de áreas fundamentais, como a análise estatística dos dados, compilação de dados, pesquisa operacional e economia, além de mais campos de aplicação, tais como marketing”, sinaliza.
Sob o ponto de vista de gestão de crise, Mirchandani é enfático: “o primeiro passo na gestão de crise é evitar a crise”. Mirchandani possui bacharelado em engenharia mecânica pelo Instituto Indiano de Tecnologia, em Nova Delhi. O executivo é pós-graduado em Gestão (MBA) pelo Indian Institute of Management, Ahmedabad, e tem PhD em Administração pela Sloan School of Management do MIT. Suas áreas de interesse para pesquisa incluem a Pesquisa Operacional, Operações, Supply Chain e Sistemas de Informação. Mirchandani tem trabalhado em projetos de consultoria com organizações públicas e privadas, entre elas a Bayer, Promistar Financial Corporation, First National Bank of Pennsylvania, GlaxoSmithKline, ASKO, Rosenthal Alpern, Duquesne Light Company e Banco Mundial.
Confira a entrevista completa!
Portal HSM: Na sua avaliação, quais são os principais pontos de atenção para os gestores que procuram melhorar a eficiência?
Mirchandani: Um dos obstáculos chave que os gestores devem lidar é com a verdade. Parece ser muito simples, mas ao mesmo tempo é muito difícil de superar. Nós, como gestores, por vezes, não reconhecemos que existe um problema e mesmo se reconhecemos sua existência, não admitimos isso. Não reconhecemos as melhorias de eficiência que os nossos concorrentes têm feito.
Não acompanhamos as melhores práticas, que podem permitir operar nossos negócios de forma mais eficiente. Muitas vezes, nos recusamos a incorporar novas tecnologias, que podem ajudar a analisar e melhorar os nossos processos e sistemas. Ainda temos uma mentalidade míope, que nos impede de responder às mudanças óbvias que ocorrem, por conta das necessidades de clientes e do próprio ambiente.
Não quero dizer que não somos capazes, mas sim que a preocupação com as responsabilidades do dia-a-dia nos impede de recuar e observar deficiências e observar os problemas em nossos processos a partir de uma nova perspectiva. E isso às vezes leva a um colapso dos sistemas, até mesmo nas empresas com as melhores gestões.
Portal HSM: Você defende o uso de um sistema de apoio à decisão. Você pode dizer como esse sistema é baseado conceitualmente?
Mirchandani: Ao invés de ficar refém de grandes quantidades de dados que a tecnologia moderna nos proporciona de forma fácil e econômica, devemos tentar explorar as oportunidades sobre os dados de produtos, mercados e clientes presentes. Um artigo na última edição (Inverno 2011) da Sloan Management Review aborda justamente que uma enorme quantidade de dados, associados com a devida análise, leva a insights altamente construtivos e de imenso valor para uma organização. De fato, uma das conclusões apresentadas no artigo, relata que as organizações de alto desempenho têm duas vezes mais probabilidade de usar a análise para tomada de decisão do que as organizações menores.
Os sistemas modernos de apoio à decisão reúnem conceitos de áreas fundamentais, como a análise estatística dos dados, compilação de dados, pesquisa operacional e economia, além de mais campos de aplicação, tais como marketing. Para aqueles que farão a implementação de um sistema pela primeira vez, eu sugeriria começar pequeno.
Ao invés de se atolar com uma situação incontrolável, análises rápidas e fáceis podem proporcionar recomendações para construir uma capacidade organizacional e promover o uso e a aceitação de uma melhoria. Se não há capacidade interna para isso, consultores externos podem ajudar a dar o startup do processo. Mesmo que a empresa opte por consultoria, a intenção inicial deve ser construir uma capacidade interna. Com a capacidade organizacional reforçada, projetos cada vez maiores podem ser enfrentados.
Portal HSM: Do ponto de vista de gestão, qual é o maior desafio que os líderes tendem a enfrentar para melhorar a eficácia da tomada de decisão?
Mirchandani: A alta administração deve gerir três desafios para melhorar a eficiência da tomada de decisão. O primeiro é técnico: será que os nossos funcionários têm a formação técnica adequada para adotar métodos modernos que promovem as melhores decisões?
O segundo é gerencial: não temos a capacidade de gestão para garantir que um projeto de apoio à decisão flua? Aqui, novamente, as ferramentas modernas de gestão de projetos e metodologias podem ajudar. E, finalmente, o último desafio é cultural: será que a nossa cultura organizacional aceita novas formas de abordagens aos problemas? Será que compensa adotar formas inovadoras de tomada de decisão?
As empresas que compreendem as três questões são as mais prováveis de ser bem sucedidas no desenvolvimento e implementação de sistemas de apoio à decisão e melhorar a sua tomada de decisão, ganhando com eficiência.
Portal HSM: Você tem algum caso de sucesso e fracasso que deseja destacar?
Mirchandani: Um grande número de empresas vem utilizando análises e sistemas de suporte para melhorar a tomada de decisão. Entre essas empresas estão a NBC (pela venda de espaços comerciais durante o mercado inicial), American Airlines e outras companhias aéreas, hotéis, cruzeiros e companhias de aluguel de automóveis (para gestão de receitas), Procter & Gamble (para otimização do sistema de distribuição), a Hewlett Packard (por redesenho da cadeia de abastecimento), a Bayer Material Sciences (por produto e cliente, um projeto de racionalização feito por alunos de MBA da Universidade de Pittsburgh), e muitos outros. Essas aplicações resultaram em economia de até centenas de milhões de dólares para as empresas.
Portal HSM: Para finalizar, quais são as tendências em gestão de crise?
Mirchandani: Vamos considerar o segmento de supply chain, uma área próxima à minha pesquisa. Com a crescente globalização das áreas de supply chain das organizações, a probabilidade de uma crise na cadeia de suprimento aumentou. Como exemplo, a Mattel, maior fabricante mundial de brinquedos, foi atingida por um recall massivo.
Existiam várias razões para o recall. Algumas relacionadas ao chumbo encontrado na tinta usada para fazer os brinquedos. Outras relacionadas ao design pobre e o potencial de erro do usuário. De qualquer forma, a gestão da Mattel precisou responder sobre o acontecimento, para proteger a imagem de sua marca e evitar efeitos negativos devastadores com o recall.
Assim, o primeiro passo na gestão de crise é evitar a crise.
Por exemplo, os projetos poderiam ter sido mais robustos? O potencial de erro do usuário poderia ter sido evitado por instruções e melhor educação ao consumidor? O controle sobre os fornecedores é o mais detalhado possível?
O segundo passo para gerenciar a crise é desenvolver opções que podem ser utilizadas no futuro. Por exemplo, já pensamos sobre possíveis crises que podem surgir? Temos fontes alternativas de suprimentos disponíveis, no caso das fontes primárias falharem ou apresentarem problemas? Finalmente, temos de reagir rapidamente para conter a crise. Geralmente, quanto mais rápido nós respondemos (supondo que a nossa resposta é amável e não aleatória), menor será o impacto adverso.
Por Patricia Santana (colaboradora do Portal HSM).
Fonte: Portal HSM
21/03/2011
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