segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Inovar está virando hábito no Brasil

Uma das críticas históricas ao gerenciamento praticado em empresas brasileiras é o baixo compromisso com inovação, tanto no que diz respeito a investimento quanto na própria cultura avessa a erros e a riscos. A boa notícia é que também esse cenário vem mudando, em especial desde a chamada Lei do Bem, promulgada no final de 2005, que criou uma série de incentivos e linhas de crédito para as atividades empresariais de pesquisa e desenvolvimento, e isso é confirmado por quatro evidências irrefutáveis:

1. Já existem excelentes cases de sucesso de origem nacional em inovação, como Natura, Braskem e Embraer.

2. As subsidiárias de multinacionais aqui instaladas investem cada vez mais na capacidade local de P&D, como IBM, TetraPak e Microsoft.

3. Aumenta o número de startups de vocação tecnológica e também cresce a “infraestrutura” que lhes dá sustentação, como incubadoras, aceleradoras e, muito importante, investidores.

4. Já há empresas situadas fora do eixo Rio¬-São Paulo –e fora de pólos tecnológicos como os de Recife, Florianópolis, Campinas e São Carlos, no interior paulista– que conseguem ser permanentemente inovadoras.

Enquanto os três primeiros itens são razoavelmente conhecidos do público em geral, o quarto ainda passa praticamente despercebido. Um estudo de caso que o comprova, embora não seja o único, é o do Grupo Algar, sediado em Uberlândia, Minas Gerais, cuja empresa de telecom, a menor e única genuinamente nacional do País, foi a primeira testar centrais telefônicas de celular e fixo dentro da plataforma GSM, a primeira a lançar aparelhos celulares desbloqueados e uma das pioneiras em oferecer os pré-pagos, hoje sucesso no mercado móvel com mais de 80% das linhas do Brasil.

Como é, porém, essa inovação por dentro?


ALGAR

Se a necessidade é a mãe de cada invenção específica, ela também é mãe do hábito de inventar em geral. Pelo menos, é o que se acredita no Grupo Algar, fundado em 1954. O que lhe exigiu uma alta dose de inovação –e de empreendedorismo– foi a complexidade decorrente de atuar em áreas tão diferentes como tecnologia, telecomunicações, agribusiness e aviação.

Com essa disparidade nas atividades, é natural que as soluções corporativas acabassem nunca sendo simples, o que é amplificado por serem todos esse mercados muito competitivos. “Em mercados assim, inovação é o programa que dá perenidade à empresa”, acrescenta o vice-presidente da Algar Telecom, Jean Carlos Borges.

Isso se traduz em recursos, parcerias, patrocínios e vários outros formatos de construção de uma cultura inovadora, que os leva a antecipar tendências:

• Nos próximos três anos, serão investidos, entre outros, R$ 15 milhões em um acordo com a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) – empresa pública brasileira de fomento à ciência, tecnologia e inovação – e com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). A duração estimada do projeto é de três anos.

• O grupo mantém parceria com a Universidade Federal de Uberlândia, para fomentar a troca de conhecimento entre o lado acadêmico e o lado de fora, além de acordos com Fundação Dom Cabral, Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

• Dentro dessa parceria estão incluídas as maratonas de conhecimento, realizadas há oito anos, que envolvem tanto estudantes como pessoal interno.

• A participação ativa dos colaboradores é cultivada, buscando conhecimento do lado de dentro. “Todos nossos colaboradores trabalham na parte de inteligência de negócios, porque a inovação, muitas vezes, vem de sacadas do dia a dia”, explica Borges. “No ano passado, foram formados dois comitês na empresa voltados à inovação –um estratégico e outro tático”, afirma o vice-presidente corporativo de finanças, Marcelo Bicalho. O primeiro é formado pelo presidente e diretores e o segundo inclui 40 pessoas, com porta-vozes vindos de toda a empresa. Duas frentes estruturam o processo: o Programa de Gestão de Processos (PGP) e o Programa de Gestão de Ideias (PGI).

• O compartilhamento de informações é ativamente estimulado, por meio dos comitês de inovação (PGP e PGI), que qualquer funcionário pode participar. “Nosso objetivo é buscar a inovação em qualquer lugar onde ela esteja, porque faz parte da sobrevivência de qualquer empresa. Se não fizer isso, o futuro do grupo pode estar comprometido e podemos perder a competitividade”, acrescenta o vice-presidente corporativo de finanças.

• Há um processo de inovação incremental corrente, estabelecido faz dez anos. Trata-se de um programa de inserção de processos para melhoria contínua dentro da empresa, como explica o assessor de governança e estratégia da Algar Tecnologia, José Eduardo Ribeiro Lima.

• A inovação de ruptura, aquela que muda efetivamente um processo, também vem se inserindo nesse programa, segundo Ribeiro Lima. Conforme o executivo observa, no segmento de tecnologia da informação (TI) há um grupo que trabalha com a infraestrutura; outro com relacionamento com o cliente; um que desenvolve aplicações (este com grande oportunidade de atuar de forma inovadora), e uma última área de serviços gerenciados. Esta ajuda a empresa a entender como suas soluções colaboram com os negócios de seus clientes. “Trata-se de um modelo consultivo para criar soluções customizadas”, acrescenta.


Fonte: Movimento Brasil
22/09/2010

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