Durante nossa vida, acumulamos uma série de lições que aprendemos com as diversas pessoas com as quais tivemos contato. Sabe aquela frase: “aprendi isso com fulano…” e outras expressões parecidas?
Pois um dos ensinamentos que registrei, e que volta e meia cito para as pessoas, é uma frase da minha professora de educadoria no MBA que fiz sobre planejamento e gestão empresarial.
Em meio à discussão sobre participação das pessoas e processo decisório, alguém comentou sobre a questão da maioria imperar na tomada de decisões. Foi aí que ela afirmou: “Muitos afirmam que a maioria tem razão, mas a maioria não tem razão, a maioria decide o que vai fazer. Se a maioria tivesse razão sempre, nenhuma eleição daria errado”.
Resgato essa passagem e ensinamento da minha vida, porque tive contato com um artigo sobre inteligência coletiva da professora de programação e criadora de games Kathy Sierra. Segundo a professora, aproveitar a inteligência coletiva pode trazer muitos benefícios. O objetivo é agregar, de algum modo, a sabedoria de cada indivíduo independente. Kathy exemplifica separando inteligência coletiva de burrice das multidões:
- Inteligência coletiva é um monte de gente escrevendo resenhas de livros na Amazon. Burrice das multidões é um monte de gente tentando escrever um romance juntos;
- Inteligência coletiva são todas as fotos no Flickr, tiradas por indivíduos independentes, e as novas ideias criadas por esse grupo de fotos. Burrice das multidões é esperar que um grupo de pessoas crie e edite uma foto juntas;
- Inteligência coletiva é pegar ideias de diferentes perspectivas e pessoas. Burrice das multidões é tirar cegamente uma média das ideias de diferentes pessoas e esperar grande avanço.
Em meio a todas as possibilidades que a Internet oferece de conectar pessoas para formar essa inteligência coletiva, ainda é necessário um eixo organizativo. A professora Kathy cita o exemplo da Wikipedia, que poderia ter sido um fracasso se buscasse o consenso entre os editores dos artigos, mas graças ao trabalho dos administradores, que tomam decisões que nem sempre geradas pelo consenso, determina a qualidade do conteúdo, ou seja, é necessária a presença de um editor.
Do meu ponto de vista e trazendo esses ensinamentos para a realidade das empresas, a diversidade de perspectivas é um elemento importante para aquelas que buscam investir em criatividade navegando nas ondas revoltas da nova economia. Na constante busca por pessoas com a capacidade e a disposição para colaborar entre diferentes disciplinas, as empresas buscam criar equipes verdadeiramente interdisciplinares. Em uma equipe interdisciplinar, todos se sentem donos das ideias e assumem a responsabilidade por elas.
Em uma equipe multidisciplinar, cada pessoa defende a própria especialidade técnica e o projeto se transforma em uma prolongada negociação entre os membros da equipe, provavelmente, resultando em concessões a contragosto.
Nesse ambiente, o papel do líder é conciliar forças, instintos, interesses, condições, posições e ideias conflitantes; ser o eixo organizativo dessa inteligência, assim como fazem os administradores dos artigos na Wikipedia. Em um mundo decomposto pela análise, realizar a síntese, reunindo tudo em estratégias coerentes, organizações unificadas e sistemas integrados.
Este é um trabalho árduo.Tendo em vista que o mundo da gestão é dividido em muitos pedacinhos e decomposto em regiões, divisões, departamentos, produtos e serviços; para não falar em missões, visões, objetivos, programas, orçamentos e sistemas.
Diante desse desafio, líderes precisarão desenvolver a habilidade da REflexão. REflexão significa perguntar, sondar, analisar, sintetizar, conectar. Em latim, refletir significa mudar de direção (retroceder, recuar), sugerindo que a atenção seja direcionada ao interior para que depois ser voltada para o exterior, permitindo que vejamos um objeto familiar de modo diferente, ou, no caso da inteligência coletiva, de perspectivas diferentes.
O futuro aponta para organizações que procurem facilitar a colaboração, a ajudar as pessoas a trabalharem em equipe com outras pessoas de outras unidades. O futuro aponta para organizações em formas de redes interativas e não como hierarquias verticais e onde a gestão procura funcionar ajudando a trazer à tona a energia que existe naturalmente dentro das pessoas.
Uma organização saudável não é uma série de recursos humanos soltos, cada um cuidando apenas do próprio território, mas sim uma comunidade de seres humanos responsáveis, que se importam com o sistema como um todo e com sua sobrevivência no longo prazo.
Ela é fruto de uma inteligência coletiva e não de uma burrice coletiva. Afinal de contas, empresas são abstrações. O que vale, de verdade, são as pessoas dentro delas. Empresas são redes interativas, não hierarquias verticais. Empresas são redes sociais tecidas e integradas pelos fios do conhecimento.
@blogdomarcelao
Fonte: Blog HSM
28/04/2012
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