sábado, 28 de abril de 2012

Burrice das multidões ou Inteligência coletiva?

Pessoal,

Durante nossa vida, acumulamos uma série de lições que aprendemos com as diversas pessoas com as quais tivemos contato. Sabe aquela frase: “aprendi isso com fulano…” e outras expressões parecidas?

Pois um dos ensinamentos que registrei, e que volta e meia cito para as pessoas, é uma frase da minha professora de educadoria no MBA que fiz sobre planejamento e gestão empresarial.

Em meio à discussão sobre participação das pessoas e processo decisório, alguém comentou sobre a questão da maioria imperar na tomada de decisões. Foi aí que ela afirmou: “Muitos afirmam que a maioria tem razão, mas a maioria não tem razão, a maioria decide o que vai fazer. Se a maioria tivesse razão sempre, nenhuma eleição daria errado”.

Resgato essa passagem e ensinamento da minha vida, porque tive contato com um artigo sobre inteligência coletiva da professora de programação e criadora de games Kathy Sierra. Segundo a professora, aproveitar a inteligência coletiva pode trazer muitos benefícios. O objetivo é agregar, de algum modo, a sabedoria de cada indivíduo independente. Kathy exemplifica separando inteligência coletiva de burrice das multidões:

- Inteligência coletiva é um monte de gente escrevendo resenhas de livros na Amazon. Burrice das multidões é um monte de gente tentando escrever um romance juntos;

- Inteligência coletiva são todas as fotos no Flickr, tiradas por indivíduos independentes, e as novas ideias criadas por esse grupo de fotos. Burrice das multidões é esperar que um grupo de pessoas crie e edite uma foto juntas;

- Inteligência coletiva é pegar ideias de diferentes perspectivas e pessoas. Burrice das multidões é tirar cegamente uma média das ideias de diferentes pessoas e esperar grande avanço.

Em meio a todas as possibilidades que a Internet oferece de conectar pessoas para formar essa inteligência coletiva, ainda é necessário um eixo organizativo. A professora Kathy cita o exemplo da Wikipedia, que poderia ter sido um fracasso se buscasse o consenso entre os editores dos artigos, mas graças ao trabalho dos administradores, que tomam decisões que nem sempre geradas pelo consenso, determina a qualidade do conteúdo, ou seja, é necessária a presença de um editor.

Do meu ponto de vista e trazendo esses ensinamentos para a realidade das empresas, a diversidade de perspectivas é um elemento importante para aquelas que buscam investir em criatividade navegando nas ondas revoltas da nova economia. Na constante busca por pessoas com a capacidade e a disposição para colaborar entre diferentes disciplinas, as empresas buscam criar equipes verdadeiramente interdisciplinares. Em uma equipe interdisciplinar, todos se sentem donos das ideias e assumem a responsabilidade por elas.

Em uma equipe multidisciplinar, cada pessoa defende a própria especialidade técnica e o projeto se transforma em uma prolongada negociação entre os membros da equipe, provavelmente, resultando em concessões a contragosto.

Nesse ambiente, o papel do líder é conciliar forças, instintos, interesses, condições, posições e ideias conflitantes; ser o eixo organizativo dessa inteligência, assim como fazem os administradores dos artigos na Wikipedia. Em um mundo decomposto pela análise, realizar a síntese, reunindo tudo em estratégias coerentes, organizações unificadas e sistemas integrados.

Este é um trabalho árduo.Tendo em vista que o mundo da gestão é dividido em muitos pedacinhos e decomposto em regiões, divisões, departamentos, produtos e serviços; para não falar em missões, visões, objetivos, programas, orçamentos e sistemas.

Diante desse desafio, líderes precisarão desenvolver a habilidade da REflexão. REflexão significa perguntar, sondar, analisar, sintetizar, conectar. Em latim, refletir significa mudar de direção (retroceder, recuar), sugerindo que a atenção seja direcionada ao interior para que depois ser voltada para o exterior, permitindo que vejamos um objeto familiar de modo diferente, ou, no caso da inteligência coletiva, de perspectivas diferentes.

O futuro aponta para organizações que procurem facilitar a colaboração, a ajudar as pessoas a trabalharem em equipe com outras pessoas de outras unidades. O futuro aponta para organizações em formas de redes interativas e não como hierarquias verticais e onde a gestão procura funcionar ajudando a trazer à tona a energia que existe naturalmente dentro das pessoas.

Uma organização saudável não é uma série de recursos humanos soltos, cada um cuidando apenas do próprio território, mas sim uma comunidade de seres humanos responsáveis, que se importam com o sistema como um todo e com sua sobrevivência no longo prazo.

Ela é fruto de uma inteligência coletiva e não de uma burrice coletiva. Afinal de contas, empresas são abstrações. O que vale, de verdade, são as pessoas dentro delas. Empresas são redes interativas, não hierarquias verticais. Empresas são redes sociais tecidas e integradas pelos fios do conhecimento.

@blogdomarcelao


Fonte: Blog HSM
28/04/2012

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