Em tempos de crise, conciliar a visão estratégica com dificuldades econômicas é um dos grandes desafios do mundo corporativo. Há empresas que aceitam cortar custos essenciais à preservação da sua marca e reputação no mercado (como verbas publicitárias, por exemplo) para ter ganho de caixa imediato. É uma das situações em que a expressão "miopia corporativa", cada vez mais em voga, é utilizado no ambiente empresarial.
A incapacidade de aceitar notícias ruins e se preparar para enfrentá-las é abordada por Richard S.Tedlow, professor da Harvard Business School, no livro Miopia Corporativa: como a negação de fatos evidentes impede a tomada das melhores decisões e o que fazer a respeito (HSM Editora). O autor explica como executivos de sucesso e com longa trajetória podem não enxergar perigos iminentes.
Segundo André Castro, diretor da HSM Educação, alguns fatores contribuem para essa miopia e um deles é a arrogância. “O líder, muitas vezes, se recusa a reconhecer que, em determinado momento, o planejamento traçado estava equivocado. Dependendo da carreira e das vitórias obtidas no passado, ele pode deixar a humildade de lado. E também, muitas vezes, o mundo corporativo se coloca contra a autocrítica", observa Castro, após ter lido o trabalho de Tedlow.
Do ponto de vista do autor, existem diferentes facetas que podem levar à miopia corporativa. Também acontece a incapacidade de perceber para que direção o vento do mercado vai soprar e, com isso, deixa-se de aproveitar oportunidades de ouro. A pena, neste caso, é ficar para trás em relação a outras empresas.
Casos abordados no livro
Aconteceu com a Levi Strauss, fabricante de calças jeans dos Estados Unidos. Na década de 1990, executivos da companhia e analistas contratados foram alertados quanto ao surgimento do hip hop, ritmo musical nascido no coração dos bairros pobres de Nova York e que ganhou o mundo. Desprezaram o aviso de que surfar nesta onda seria essencial em um futuro muito próximo. Estima-se que, pela omissão, a Levi Strauss tenha deixado de faturar mais de US$ 1 bilhão.
Não se trata de simplesmente manter pensamentos positivos ou de seguir qualquer mantra de livros de autoajuda para executivos. Apesar de ser uma visão presente, sempre pensar no sucesso e ter fé que o caminho traçado vai terminar na estrada do sucesso pode fazer com que uma empresa inquestionavelmente líder em um setor da economia perca a condição hegemônica.
Castro, da HSM Educação, afirma que é preciso ter quase uma paranoia produtiva. “Sempre ter na cabeça que algum concorrente pode estar prestes a lhe quebrar. Não é discussão entre velha guarda e nova guarda. É ter, sim, aguçado senso crítico e possuir cultura organizacional que incentive a melhoria contínua e a verdade o tempo inteiro", analisa o diretor.
Usar uma lente contra a miopia corporativa é enxergar as oportunidades que surgirem e não simplesmente se acomodar no lugar ocupado. A Motorola tem o caso clássico do celular Razr. O executivo Geoffrey Frost apostou no design criado pelo centro de pesquisa da empresa, em Chicago, em 2004. Foi um sucesso: mais de 50 milhões de aparelhos vendidos. Mas depois da morte de Frost, a empresa não conseguiu criar nada que chegasse nem perto do apelo mercadológico do Razr. O oposto acontece com a Apple que, mesmo após a morte de Steve Jobs, deu continuidade a sua veia inovadora e criativa.
Em síntese, André Castro diz que a obra de Tedlow trata da capacidade das empresas de perceber tendências e evitar a repetição de erros célebres cometidos por excesso de confiança ou medo. Para ele, esse tipo de erro sempre aconteceu e continuará acontecendo, principalmente para quem não absorver as lições.
Validações de peso
“Esta história lúcida e assustadora da nossa tendência para negar a verdade é Richard Tedlow em sua melhor forma. Mas se programe antes de começar a ler este livro. É muito difícil largar”, aconselha Clayton M. Christensen, autor de O DNA dos inovadores (HSM Editora). Quem também leu e recomenda é Sheryl Sandberg, COO of Facebook: “Tedlow demonstra que a capacidade de encarar os fatos, por mais duros que sejam, é o que distingue os grandes líderes dos demais. Uma leitura obrigatória”, assegura.
Fonte: Portal HSM
24/07/2012
24/07/2012
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