Por: Stephen Kanitz
Na próxima vez em que seus pais lhes falarem que eles começaram do zero, digam que eles tiveram muita sorte. Vocês começarão com muito menos do que zero, pois irão começar com uma dívida de quase meio milhão de reais por casal. Quando seus pais lhes contarem que na época deles tudo era muito mais difícil, peçam a eles que leiam novamente este artigo. Quando seus pais nasceram, a população mundial era de somente 2 bilhões de habitantes. Enquanto eles pregavam o amor livre, em vez da paternidade responsável, nasceram mais 4 bilhões de criaturas para competir com vocês. Até hoje, discutir paternidade responsável é considerado politicamente incorreto no Brasil. Na época de seus pais, pagavam-se somente 5 a 15 dólares o barril de petróleo; agora vocês terão de pagar de 50 a 100 dólares. Isso eles delicadamente sempre se esquecem de mencionar.
Na época de seus pais, a carga tributária era de somente 15% do PIB. Eles podiam gastar 85% de tudo o que ganhavam, podiam viajar para a Disney com toda a família, tirar férias e trabalhar das 9 até as 17 horas. Agora, graças à opção ou omissão deles, a carga tributária já chega a 45% do PIB e vocês poderão gastar no máximo 55% do que ganharem. O crime organizado não paga impostos, por isso o governo só recebe 40% do PIB, mas vocês pagarão 45% do que ganham. A mãe não precisava trabalhar fora porque a renda do pai dava para sustentar a família. Hoje, em vez de cuidar da educação moral dos filhos, sua futura esposa certamente terá de trabalhar duro para ajudar no sustento da casa. O pior é que boa parte do que ela ganhar será para pagar os impostos e as alíquotas que seus pais criaram ou deixaram criar. A velha geração também criou esta dívida pública interna de 1 trilhão de reais que vocês terão de pagar, com juros de 19% ao ano.
Outra dívida monumental que eles escondem a sete chaves é a previdenciária, estimada num estudo de Francisco Oliveira, do Ipea, em mais de 7 trilhões de reais, a ser pagos por vocês, jovens, nos próximos trinta anos. Isso tudo significa que os 20 milhões de famílias cujo titular está abaixo dos 30 anos começam a vida com uma dívida pública inicial de 400.000 reais mais ou menos. A maioria não consegue ganhar isso numa vida inteira, muito menos poupar esse valor, mas será obrigada a fazê-lo, está na Constituição. Não confiem nesses estudos e papers feitos por pesquisadores com mais de 50 anos que pretendem se aposentar. Façam vocês os próprios estudos e projeções. Nem confiem em mim; criem um grupo de estudo na internet e calculem essa dívida vocês mesmos, se deixarem. Para não ser acusado de exagerado, deliberadamente não incluí outra dívida, colossal nos Estados Unidos, que é a da saúde. Os velhos gastam de oito a trinta vezes mais em saúde do que os jovens, mas poucos da velha geração, muito menos o governo, estão poupando para uma eventual doença grave ou ponte de safena. Quem pagará por essa conta provavelmente serão vocês. Por isso, os gastos do governo e a carga tributária aumentarão de 45% para 50% ao longo dos anos. Em nome da dívida social eles criaram uma dívida monumental.
Seus pais fazem parte ou foram vítimas da geração que assinou a Constituição de 1988. Ou então fazem parte ou foram vítimas da escola keynesiana de intelectuais, a turma do gastem e endividem-se hoje porque "a longo prazo estaremos todos mortos". Mui amigos! A bem da verdade, a velha geração do mundo inteiro fez o mesmo, não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. A velha geração americana, por exemplo, deixa dívida de 40 trilhões de dólares para a próxima geração pagar, leiam The Coming Generation Storm . O resto do mundo deixa um estrago bem maior, leiam Who Will Pay, publicado pelo FMI. Graças às dívidas públicas que seus pais contraíram para "desenvolver" o Brasil, aos impostos que eles criaram para "ajudar" os outros, aos direitos que eles concederam para si, ao petróleo que eles consumiram a 100 quilômetros por hora, a vida de vocês vai ser muito, mas muito mais difícil do que a deles. Mas isso eles não publicam, não escrevem nem contam na hora do jantar.
Editora Abril, Revista Veja, edição 1914, ano 38, nº 29, 20 de julho de 2005.
Artigo enviado por Professor Norival Carvalho Cunha
10/12/2012
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