Por Mariana Congo
O assunto pode parecer distante da realidade das pequenas e médias empresas, mas o mercado de créditos de carbono é sim acessível ao segmento. Nesse mercado, cada tonelada de gases causadores do efeito estufa que deixa de ser emitida vale um crédito de carbono. Esse crédito pode ser vendido no mercado internacional, principalmente a empresas de países desenvolvidos ou bancos de investimento.
Os países desenvolvidos são obrigados a cumprir metas de redução de emissões de gases do efeito estufa de acordo com o Protocolo de Kyoto, o primeiro tratado mundial de combate às mudanças climáticas, ratificado em 1999 e com validade até 2012. No último domingo, dia 11 de dezembro, a vigência do Protocolo foi prorrogada até 2017, em uma das decisões da 17ª Conferência do Clima da ONU, a COP-17. A comunidade internacional irá debater um novo modelo de combate às mudanças climáticas até 2020.
O Protocolo de Kyoto permite que, em vez de reduzir suas emissões, as empresas comprem permissões para compensar os gases do efeito estufa. Em outras palavras, elas adquirem certificados de créditos de carbono de outras empresas que conseguiram fazer a lição de casa e diminuir suas emissões.
Mercado voluntário
O Brasil não é obrigado a reduzir suas emissões de gases causadores do efeito estufa, mas o governo federal determinou metas voluntárias para tal. Dessa forma, muitas empresas que não têm obrigação legal de reduzir suas emissões passaram a fazê-lo por iniciativa própria. A preocupação com o meio ambiente e com a sustentabilidade pode se traduzir em vantagens competitivas para a empresa, dizem os especialistas.
De acordo com Leandro Salvático, consultor da WayCarbon, empresa especializada no mercado de créditos de carbono, existe uma tendência mundial consolidada de a contabilização das emissões se tornar obrigatória. A empresa que já estiver atuando de acordo com as metas de redução sairá na frente das outras. “Do contrário, existem riscos operacionais. A empresa pode ser obrigada a diminuir sua produção para conseguir reduzir as emissões de CO2 ou ter de ir ao mercado de carbono para comprar créditos ao invés de vendê-los”, diz.
Além do potencial para ganhos financeiros, existem ganhos de imagem, em função da crescente procura por produtos e serviços sustentáveis pelos consumidores. As empresas que neutralizam suas emissões de CO2, por meio do plantio certificado de árvores, por exemplo, podem divulgar essas ações em sua estratégia de marketing.
Empresas unidas
De acordo com o Sebrae, existem 6,1 milhões de empresas de pequeno e médio porte no Brasil, responsáveis por 14,7 milhões de empregos formais em 2010. Diante dessa dimensão, a participação do segmento é importante para que uma economia de baixo carbono se concretize. A Associação Franquia Sustentável (Afras) iniciou o Programa Franchising de Baixo Carbono neste ano. “Sabemos que o Brasil adotou metas de redução de cerca de 40% de suas emissões projetadas até 2020 e isso terá impacto em todas as empresas, incluindo as franquias”, afirma Claudio Tieghi, presidente da Afras.
Na avaliação de Rogério Gurgel, consultor do Itaú e do Extreme Makeover, os empreendedores devem ter cuidado ao trabalhar com operações no mercado de crédito de carbono. “São operações complexas e caras para as pequenas empresas. Seria preciso que um grupo de empresas se reunisse”, avalia.
Primeiros passos
Para entrar no mercado de créditos de carbono, a empresa deve primeiramente identificar e quantificar suas emissões de CO2 e de outros gases relacionados ao efeito estufa. Para isso, é necessário realizar um “Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa”. Geralmente, esse inventário é feito com o apoio de uma consultoria.
O passo seguinte é analisar a viabilidade de redução da emissão de gases nocivos, a partir das oportunidades encontradas. No Programa Franchising de Baixo Carbono, da Afras, o inventário foi realizado em cinco lojas de cada uma das 18 redes de franquias participantes. A medição resultou em 1.933 toneladas de CO2 equivalentes. Para a compensação, o grupo investiu no plantio de cerca de 26 mil árvores nativas em matas ciliares e outras áreas. Em 2012, a ideia é expandir o projeto para outras 20 franquias terem ferramentas para entrar no mercado voluntário de créditos de carbono.
Fonte: Revista PEGN
12/12/2011
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