quinta-feira, 7 de abril de 2011

Geração Y - o que eles querem?


Durante o Fórum HSM de Gestão e Liderança 2011, Sofia Esteves da Cia. de Talentos fala sobre o que os jovens querem das empresas.

No final do primeiro dia do Fórum HSM de Gestão e Liderança 2011, tivemos a presença da psicóloga, professora e consultora Sofia Esteves, presidente da Cia. de Talentos, que apoia empresas na gestão de talentos e jovens profissionais no início de carreira. Considerada a maior especialista no Brasil na chamada Geração Y, Sofia Esteves conversou com Sandro Magaldi sobre esse tema durante um talk show ao vivo. Confira os principais pontos da entrevista.

Sandro Magaldi – Como é trabalhar com jovens?
Sofia Esteves – Eu trabalho com jovens em início de carreira há 21 anos. Hoje em dia, temos muita informação disponível. Mesmo assim, os jovens continuam saindo da escola bem-formados, mas mal-informados. Antes, não havia tanta informação disponível. Eu levava executivos para contar sobre suas carreiras aos jovens.

Os interesses eram outros. Há 21 anos, me lembro que, num processo de posições de trainee na Unilever, por meio de fichas de inscrição, se candidataram 2.345 jovens. Em 2010, com acesso on-line, foram cerca de 50 mil inscrições.

Também em 2010, trabalhamos com 4 mil posições de jovens em início de carreira. E, mesmo tendo 900 mil inscritos, não conseguimos preencher todas essas 4 mil vagas.

Isso acontece porque há uma diferença muito grande entre a formação dos jovens nas faculdades e aquilo que efetivamente as empresas precisam.


Sandro Magaldi – Existe mesmo a Geração Y ou isso é uma invenção da mídia especializada em management para vender livros?
Sofia Esteves – Existe. Só que a mídia e outras pessoas criaram mitos e fatos em torno da Geração Y. São pessoas iguais a todos nós, em sua essência, em suas rebeldias etc. Esses jovens não vieram de Marte, Vênus ou Plutão, eles vêm de nossas casas. São fruto de nossos acertos, nossas incoerências.

O contexto do mundo mudou, e o comportamento das pessoas também. Antes, tínhamos brincadeira de pipa, telefone sem fio, enciclopédia “Barsa”, trabalhos em papel almaço, memorando interno e outras coisas. Hoje, é tudo com celular, laptop, iphone, ipad, redes sociais, fast food, brinquedos tecnológicos.

O trabalho, antes, era obrigação, dever. Gozar a vida, só depois do dever cumprido. A Geração dos Baby Boomers da Segunda Guerra Mundial já começou a se questionar sobre isso. Depois, na Geração X, vieram a reengenharia, o downsizing, para cortar força de trabalho. A Geração X fala muito de qualidade de vida mas faz muito pouco. O conceito é “não podemos pedir aumento, temos que esperar ser reconhecidos”.

Com nossos filhos (Geração Y), tiramos esses “sapos”. Ainda mais porque sempre nos sentimos culpados por ficar pouco com os filhos. Por isso, os jovens da Geração Y estão amadurecendo mais tarde, saindo de casa mais tarde, casando mais tarde. A forma de viver é diferente.

Com relação ao trabalho, não têm tanta pressa, mas são muito ansiosos. Os jovens têm 22 mil cursos diferentes para escolher no País. Se não dá certo arrumar um bom emprego logo, pensam em opções como fazer um “mochilão” no exterior, por um ano, ou fazer uma pós-graduação.

O mercado cobra muito, a sociedade também, e assim o nível de depressão entre os jovens é surpreendentemente grande.

Sandro Magaldi – Há um conflito de gerações?
Sofia Esteves – Não, na verdade há um encontro de gerações. Os estereótipos vêm dos dois lados, mas os filhos ainda querem ter os pais como referência. A questão é que esses jovens têm pouca resistência à frustração, não sabem lidar com o “Não”.

Hoje, quando um CEO de uma empresa solicita a criação de um Programa de Trainees, muitas vezes é porque tem um filho que comentou sobre isso. Mas, em várias ocasiões, o executivo não sabe os reais impactos de se implantar um programa desse tipo. Há bônus e ônus de se implantar um programa como esse.

O que eu acho também é que, embora tenham mais acesso a informações, os jovens atualmente leem pouco, por isso têm pouca profundidade em análises. Na cidade de Buenos Aires, por exemplo, se vende mais livros do que em todo o Brasil.


Sandro Magaldi – Como é a liderança na Geração Y?
Sofia Esteves – Eles tentam achar o seu estilo. Pedem feedback o tempo todo, trabalham sempre como time, para construir junto. Procuram ver o que têm para aprender e o que têm para ensinar.

Há cerca de dez anos, o jovem queria carreira internacional. Hoje, eles querem ir para o exterior, mas só para passar um tempo, ganhar experiência, fazer uma MBA. Querem sempre voltar para o País. O Brasil é a bola da vez.


Sandro Magaldi – As características da Geração Y são iguais em todas as classes sociais?
Sofia Esteves – Sim. A Geração Y quer coisas muito parecidas com as que todos nós queremos. O que muda é a forma. Veja, por exemplo, o caso do McDonald’s. É o maior empregador de jovens da Geração Y de baixa renda (classes D e E). Os problemas de retenção ou insubordinação são os mesmos. Se o jovem se sentir ferido, vai embora. E, quando recebe o primeiro salário, esse vai para o celular ou o tênis Nike. Eles querem ter senso de pertencimento.

Os índices de retenção nas empresas estão aumentando. O pensamento é “eu fico o tempo que for, desde que eu dê o melhor resultado e a empresa me reconheça”. Querem ganhar bem e ter significado no trabalho. Saber o que fazem. Além disso, a nova geração está namorando, não é mais só “ficar”.


Sandro Magaldi – Quando falamos em 900 mil inscritos que não conseguiram preencher 4 mil vagas, esse dado nos assusta. O que pode ser feito? Quais são os gaps? O que as faculdades/universidades devem fazer?
Sofia Esteves – No meu entender, falta o “brilho nos olhos”. A vontade de querer. Os jovens participam de vários programas ao mesmo tempo, ficam exaustos. Quanto às escolas, têm que melhorar o mix técnico mais humanista. Não adianta mudar o currículo, é preciso mudar a forma de estudar. Os jovens têm de ser desafiados, para que tenham senso crítico.


Sandro Magaldi – Como serão as organizações daqui a 20 ou 30 anos?
Sofia Esteves – Sou otimista com relação a isso. Os jovens querem significado, não são tarefeiros. Se continuarem nessa direção, teremos um clima organizacional melhor.


Sandro Magaldi – No passado, quem tinha o papel de formar pessoas era a família, a igreja e a escola. E hoje?
Sofia Esteves – Hoje, temos que compartilhar. Temos que aprender a ajudá-los. A responsabilidade não é só da escola, é de todos.


Sandro Magaldi – Qual a diferença entre Programa de Trainees e Programa de Estágio?
Sofia Esteves – Para as vagas de trainees podem concorrer jovens que estão se formando agora ou estão formados há no máximo dois anos. No Programa, passam por uma grade de formação reforçada. São “mentorados” na empresa. O Programa de Trainees visa formar pessoas que possam ser líderes no médio e longo prazo, que possam assumir posições estratégicas.

Já os estágios podem ser preenchidos por jovens que ainda estão estudando, para aprender e ganhar experiência. O jovem trabalha no máximo seis horas por dia.


Fonte: Portal HSM
05/04/2011





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