O mesmo fenômeno ocorrido em 2000 se repete. Será que os investidores estão caindo nos mesmos erros?
No último mês, Robert Schmidt, CEO do Google, afirmou em entrevista a uma revista suíça que uma nova Bolha da Internet, semelhante ao fenômeno ocorrido em 2000, pode estar se inflando no mercado. E esta sensação não é exclusiva do executivo. Uma movimentação intensa no mercado virtual tem gerado inúmeros comentários e uma dúvida: as empresas de internet estarão cometendo os mesmos erros de 11 anos atrás?
Recentemente, as duas gigantes da internet - Google e Facebook - sinalizaram interesse em adquirir o Twitter, o microblog de maior acesso do mundo virtual. O valor estimado da venda seria em torno de US$10 milhões. A rede social de currículos LinkedIn, que lucrou US$ 15 milhões em 2010, abriu capital na Bolsa de Valores de Nova York, elevando seu valor de mercado a US$4,25 bilhões. Em contrapartida, o MySpace, que foi adquirido em 2006, pela grupo News Corporation, por expressivos US$580 milhões, foi vendido há poucos dias à Specific Media, por “modestos” US$35 milhões.
A entrada de novas tecnologias no mundo virtual e a supervalorização destas empresas pode ser comparada ao fenômeno da Bolha da Internet que o mercado financeiro vivenciou do final dos anos 90, até o “estouro da bolha” em 2000.
Mas, na visão do economista e professor das Faculdades Integradas Rio Branco, Carlos Stempniewski, essa intensa movimentação das empresas de internet deve ser considerada, antes de tudo, um processo natural de mercado. “Diferentemente do que ocorreu em 2000, hoje não se vê negócios consistentes firmados, mas projetos embrionários que necessitam de investimentos em inovação para darem certo. Porém, é preciso lembrar que 2011 é um ano de muitas incertezas em relação ao futuro da economia e investir na internet não deve ser prioridade do pequeno e médio investidor” alerta.
Get rich quick
No final da década de 90, a economia estava sólida, a internet começava a se popularizar no mundo todo, e muitos empresários, crédulos no get rich quick tiveram a ilusão de que todo e qualquer negócio que fosse aberto ali estaria destinado ao sucesso. O mercado passou a receber e supervalorizar uma avalanche de empresas chamadas de pontocom que, sem um modelo de negócio estruturado e propostas absurdas de serviços, não durariam muito.
Todo esse frenesi veio ao fim em 10 de março de 2000, quando a bolsa eletrônica de Nova York, Nasdaq, chegou ao seu ápice de 5.132,52 pontos, o que é chamado de o “estouro da bolha”. Depois deste dia, as ações das empresas de internet começaram a despencar brutalmente, levando os investidores a enormes prejuízos.
Em 2006, Tim Berners-Lee, o britânico que inventou a internet, afirmava durante uma entrevista para o portal HSM, que a world wide web já estava pronta para realizar seu próximo grande salto e se tornar um ambiente aberto de colaboração, mas também advertia que os crimes virtuais e práticas anticompetitivas precisavam ser combatidos com o maior rigor. "Todo o panorama do setor é estimulante. Tivemos a bolha e o estouro da bolha, e agora vemos muitas empresas jovens, uma vez mais. Existe entusiasmo renovado no setor de capital para investimentos em companhias iniciantes. Minha sensação é de que a atividade está em alta,” afirmava.
Já é possível perceber o crescimento que Lee previu em 2006. No último semestre, o Facebook registrou um aumento de 133%, atingindo a marca de 21 milhões de usuários somete no Brasil. No mundo são cerca de 750 milhões de pessoas acessando diariamente a rede. Outra marca significativa no país, no ano passado o varejo nas lojas virtuais aumentou 40%, contra 13% de crescimento do varejo tradicional. “O que nós vamos ver nos próximos anos é a mudança na maneira como as pessoas se relacionam e isso suscita também na forma como elas fazem negócio. Como é natural em todo processo, algumas empresas vão se estabelecer e outras não”, analisa o professor e presidente do Conselho do PROVAR, Programa de Administração de Varejo da FIA, Claudio Felisoni.
Por isso, antes de investir em um negócio de internet é preciso fazer uma análise concreta para saber se o modelo de negócio tem força para se sustentar, adverte o consultor e autor do livro “A bíblia do marketing digital”, Claudio Torres. “Diferentemente de redes sociais como o Twitter e LinkedIn, que dependem do número de usuários para sobreviver, o Facebook já tem um modelo de negócio mais consistente, que gera receitas pelos diferentes aplicativos que a plataforma oferece e que trazem anunciantes”, exemplifica.
O autor ainda lembra que em 2000 havia muito capital de poupança investido nas pontocom, enquanto hoje se tem muito mais investidores profissionais. Ainda assim, alguns modelos de empresas de internet que estão em plena fase de expansão, como os sites de compras coletivas, podem representar riscos no mercado. “Na medida em que aumenta o número deste tipo de sites, o negócio tende a dispersar demais o público. Logo não valerá a pena para nenhuma empresa investir nesse tipo de promoção”, afirma.
Por motivos como este, o professor Fernando de Souza Meirelles, do Centro de Tecnologia e Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, defende que a frenética movimentação que ocorre hoje no mercado de internet trata-se de um processo cíclico, e que a ruptura de uma nova bolha será só uma questão de tempo. “O valor de mercado de cada uma destas empresas está embutido em uma expectativa de crescimento e lucro. Porém, há a certeza absoluta que a grande maioria não vai conseguir porque a interface ou o modelo de negócios ficará ultrapassado. Não há como fugir disso”, conclui.
Fonte: Portal HSM
25/07/2011
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