domingo, 22 de fevereiro de 2015

O MBA de Harvard está ficando para trás em tecnologia?

A Harvard Business School precisa se atualizar?

Vista da fachada da biblioteca Baker, na Faculdade de Administração de Harvard (HBS). Bloomberg News

A famosa faculdade de administração, que exigia que os estudantes carregassem laptops já em 1984 e cujos formandos acabam em cargos altos de empresas como Hewlett-Packard Co. e Facebook Inc., não está conseguindo manter a liderança quando se trata de ensinar administração numa era voltada para a tecnologia, dizem alunos, professores e graduados. Enquanto isso, a Faculdade de Administração da Universidade de Stanford e a Faculdade de Administração Sloan, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), concorrentes da Harvard, estão se firmando como provedores de profissionais para o setor de tecnologia, segundo relatórios anuais dessas instituições.

É verdade que o curso de administração da HBS ainda possui uma procura elevada e aceita apenas 12% dos que se candidatam ao seu programa de MBA, que dura dois anos. Mas o tamanho e o legado da instituição podem complicar suas tentativas de se manter à frente das rápidas mudanças ocorrendo na tecnologia e nas empresas.

Comparado ao MIT e a Stanford, “nós temos, de certa forma, menos tecnologia no ar”, diz o reitor da HBS, Nitin Nohria, embora ressalte que a faculdade, todos os anos, ainda envia muitos graduados para as principais empresas de tecnologia.

Estudantes, professores e ex-alunos dizem que a forte aderência da HBS ao método de ensino baseado em estudos de casos se concentra nos problemas que as empresas tinham até mais de dez anos atrás, em vez de se preocupar com as forças que estão atualmente moldando as empresas de tecnologia, incluindo questões que os formandos deveriam compreender muito bem.

Nick Taranto, que se formou na HBS em 2010 e é um dos fundadores e um dos diretores-presidente da Plated Inc., uma “startup” on-line de entrega de comida, diz que a faculdade o preparou para operar sua empresa, que emprega cerca de 300 pessoas.

“Mas preparar para os estágios inicias da administração de produto, descoberta dos clientes, experiência do usuário, design de websites — qual a diferença entre HTML, CSS, Java Script — eu não tinha a mínima ideia”, disse ele. “Tive que aprender tudo sozinho.”

O mesmo foi dito por um formando de 2014 cujo empregador exigiu que permanecesse anônimo. “A HBS treina pessoas para ser diretores-presidentes, diretores de marketing, todo tipo de diretor, exceto diretor de tecnologia e diretor de tecnologia da informação.”

Poucos estão sugerindo que MBAs tenham aulas obrigatórias de programação ou deem um tratamento especial para candidatos com formação em engenharia. Mas alunos atuais ou que se formaram recentemente dizem que a HBS deveria incluir mais tecnologia no seu currículo principal, abordando, por exemplo, análise de dados em marketing ou o impacto que o crescimento do Airbnb Inc. — uma firma novata que coloca pessoas que querem alugar quartos ou imóveis em contato direto com os potenciais locadores das acomodações — está tendo sobre as grandes redes de hotéis.

A HBS tomou algumas medidas para atualizar suas ofertas. Em 2013, Nohria lançou a Iniciativa Digital, um projeto interdisciplinar que procura ajudar a formatar diálogos sobre a transformação digital que está acontecendo em toda a economia. E a faculdade recentemente anunciou que oferecerá uma versão voltada para empresas do popular curso introdutório em ciência da computação que oferece a seus alunos da graduação. Este ano, cerca de 25 estudantes da HBS se registraram no curso.

Colin Maclay, que dirige a iniciativa digital, diz que o grupo fornece estrutura para iniciativas tecnológicas, incluindo pesquisas e cursos. Ele ajudou a organizar uma conferência em abril para discutir os desafios criados nas empresas pela transformação digital e mais de uma dezena de eventos estão previstos para este ano.

Um aluno recém-formado que agora tem um cargo de liderança numa empresa de tecnologia de Nova York diz que uma “iniciativa” obscura não significa progresso. “Eles vêm falando nisso há anos”, diz ele sobre as tentativas da instituição de expandir suas ofertas em tecnologia. “Nada aconteceu.”

Um problema, disse Nohria, é a geografia. As faculdades de engenharia e de administração do MIT e de Stanford são próximas e bastante integradas; já a faculdade de engenharia da Universidade Harvard está a quase dois quilômetros da HBS.

Existe um plano para transferir a faculdade de engenharia para um local bem em frente à faculdade de administração dentro de alguns anos, uma mudança que, segundo Nohria, criará oportunidades para os alunos aprenderem programação e atenderem cursos sobre os progressos inovadores em ciências.

Quanto aos estudos de caso, o reitor observa que os professores estão escrevendo casos atualizados envolvendo problemas digitais, embora alguns estudantes se queixem que os casos já estão ultrapassados quando entram no currículo. (Os problemas enfrentados pela HBS são comuns em muitas faculdades de administração: Como conciliar o ensino de lições testadas pelo tempo com a velocidade dos acontecimentos do mundo real?)

Com mais cursos de MBA oferecendo especialização em tecnologia, os candidatos com tais aspirações estão agora olhando para o Vale do Silício em vez de Boston, diz Jeremy Shinewald, fundador e presidente da mbaMission, uma empresa de consultoria para admissão em MBAs. Entre o pequeno número de pessoas que conseguem ser aprovadas tanto na HBS como em Stanford, os candidatos em busca de carreiras mais tecnológicas acabam optando por Stanford, diz Shinewald. Mas os alunos da HBS ainda se saem bem no mercado de tecnologia, com graduados recentemente conquistando cargos em empresas como LinkedIn Corp., Google e Uber Technologies Inc.



Por: Melissa Korn e Lindsay Gellman
Fonte: The Wall Street Journal 

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